segunda-feira, 27 de julho de 2009

De terno e gravata!



“Teus olhos, meu clarão, me guiam dentro da escuridão.
Teus pés me abrem o caminho, eu sigo e nunca me sinto só.
Você é assim, um sonho pra mim, quero te encher de beijos.”
(Velha Infância)

É então que eu deixo você andar na frente e você pára, me espera porque quer ir ao lado, quer conversar, quer olhar e eu sorrio porque acho bonita a atitude, afinal eu nem sei o caminho e sempre vou pro lado errado e mesmo assim você quer que eu vá lado a lado.
De repente você dá dois passos mais longos, afinal tem uma porta e você tem que abri-la e estou ali de frente com um ser de terno e gravata, com postura de homem poderoso, abrindo a porta pra mim, eu que nem sentar aprendi direito ainda, que fico sorrindo que nem boba pra faxineira que passou pela gente, porque ela deve ter notado que este homem de terno e gravata abriu a porta pra menina de moletom com o cabelo bagunçado, ela notou, com certeza notou e pensou “porque será que ela merece isso e eu não?” e não, eu não mereço nada disso não, este homem que cismou que eu sou menina que tem que ser tratada cheia de modos, mas não sou assim, acredite Srª Faxineira que me olha como se eu fosse bem mais bonita do que sou.
O homem da banca também notou, afinal chego eu ali, uma menina tomando chuva e querendo fazer amizade, pergunto a primeira coisa que me vem a cabeça “qual o nome desta rua?” e ele me trata grosseiramente, afinal eu sou apenas uma menina tomando chuva a espera de alguém que pra ele tanto faz, mas eu sei que se ele fosse um homem de terno e gravata ele teria me tratado melhor, teria oferecido uma cadeira pra eu sentar e esperar, esperar o meu homem de terno e gravata. Então ele chega num carro bonito, carro de quem já tem três filhos que estudam em escola boa, e abre a porta. Assim eu mostro pro tal “Dono de Banca que Nada Sabe de Mulher” que tem gente que sabe como tratar uma mulher, afinal ele do alto do seu terno e gravata lastimou a demora que o transito provocou. Lastimou também a chuva que tumultua o cabelo das meninas que estão nas capas de revista, mas o meu não, é só um cabelo e até que gostei dele com estas pontas enroladas, nem me incomodei.
Teu irmão provavelmente reparou que não sou a tal menina que deve ser tratada cheia de modos, como você pensa, afinal ele viu que fiquei sem jeito ao conhecê-lo, que disse um “oi” de criança que morre de medo de adulto e fui me esconder embaixo da sua saia, ou melhor: do seu terno, mas você estava ocupado demais pensando em como me fazer feliz que talvez nem tenha percebido. Daí então, conheço teu irmão, teu apartamento, tua cozinha, tua varanda, a pomba que pousou ali do nada e você cismou em ver, e teu microondas, e o chão, o sofá, a TV... calma, calma que ainda estou tentando processar tudo, e você tira o terno e arregaça as mangas da camisa social, daí tanto faz a pomba, o chão ou o sofá, talvez se eu te abraçar agora eu não solte nunca mais. E não solto, eu quero abraçar e preciso, afinal, penso “se eu não aproveitar o momento ele simplesmente passa”, eu sei.
Eu, como menina que sei qual o meu lugar, estou satisfeita em ficar na metade do caminho, sei que seu terno e gravata pede compromissos e horários, mas você faz tudo errado, você desvia o caminho e prefere percorrer uns 60 km pra me levar embora pra casa, teus compromissos podem esperar, mas eu tenho que ficar em segurança, assim como não posso abrir as portas sozinhas, como não posso ficar sentada longe, como não posso fazer meu prato sozinha, como não posso resolver aquele problema com a minha mãe sozinha... você ajuda, me estende a mão e me leva embora pra casa.
Depois disso tudo, chego em casa e sorrio. Sozinha, eu sorrio já com certa arrogância, afinal depois disso tudo já me acostumei que posso ser tratada cheia de “não me toques”, que posso ser cuidada com carinho, e por um homem de terno e gravata. Já quase acredito que mereço!

Um comentário:

  1. TODOS MERECEMOS SER BEM TRATADOS,TRABALHO NA PERIFERIA DE UBERLANDIA ,COM PESSOAS CARENTES,QUE MUITAS VEZES SE SENTEM ASSIM;QDO TRATADAS BEM SE ADMIRAM.TODOS NÓS TEMOS AMOR PA DESTRIBUIR FARTAMENTE,O Q FALTA É DECISÃO P AGIR,AVENTURAR SE NO DESCONHECIDO SEM MEDO E COM DIREÇÃO DIVINA SEMPRE. GRANDE BEIJO.

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