sábado, 26 de setembro de 2009

“La peau morte des émotions d'autrefois."



Sem ti as emoções de hoje são apenas pele morta das emoções de ontem, isso sim.
Tudo que projeto de amor, de paixão, de tesão vem inspirado em qualquer coisa que tive contigo – digo sobre todas aquelas coisas que não eram nem amor, nem paixão e nem tesão, mas sim aquilo que eu julgava ser todas estas coisas, aquilo que vinha com um misto de necessidade e supérfluo, de querer para sempre o que não se suportava por mais de meia hora.
As minhas experiências, todas, sempre comparadas a ti fazem-me avaliar como eras pouco e vazio e, no entanto, ando por ai procurando alguém que seja um pouco “pouco e vazio”, e quando não encontro, visto-me, eu mesma e com orgulho, de “pouca e vazia” pra algum outro... e magôo, tal como já fui magoada, só assim sei amar, só assim aprendi.
Transformei nosso amor em pele morta e quando percebi estava, eu também, às vezes um pouco pele, às vezes um pouco morta.
Quando resolvo ser pele, quando aventuro-me, quando vou, quando te esqueço... eu já nem sei quem sou, sou outra, sou qualquer uma. Porque a "qualquer uma" de mim gosta de aventuras e de alegria, gosta de sentir o gosto do perigo, acha tudo inevitável. A "qualquer uma" não tem medo de ferir, nem de ser ferida, vive o feliz e o presente. Mas a "qualquer uma" adormece, esquece, e volto a ser eu, incompleta e sem referências.
Volto a querer bem menos do que mereço... lembro de ti.

“Experimento pessoas como experimento comida baiana, “tá, deixa eu ver que gosto tem, mas não muito pra não morrer aqui, longe de casa, debaixo desse sol e dessa alegria”.”


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ponto de Partida!


(ou "Porque avançar as vezes é retroceder e voltar ao mesmo lugar nem sempre é recuar")

"Serena: Não faz o mínimo sentido...
Blair: Sentimentos nunca fazem . Eles te deixam confusa. E a levam por um caminho todo, só para te largar onde começou”

Eu sei que estou no mesmo lugar que estava há cinco anos, mas também sei que não sou a mesma de cinco anos atrás.
Eu sei que não ficaste comigo, mas também sei que não me deixaste sozinha, porque tenho muito, tenho até demais.
E sei também que você está ali parado, não sozinho e não igual, exatamente como eu, e, no entanto, algo em nós, apesar de iguais, não se completa mais, não combina, não faz sentido e não me satisfaz.
E eu que te conhecia, que sabia e que sentia, não sinto mais, não posso e não quero. O que era você ficou, o que era eu fugiu,
ou vice-versa,
tanto faz.

“Donna: Well, I'm expecting somebody.
Frank: Instantly?
Donna: No, but any minute now.
Frank: Any minute? Some people live a lifetime in a
minute.”

terça-feira, 8 de setembro de 2009

"Mariana foi pro mar"


No primeiro dia, durante o tempo inteiro, ela dirigia na estrada olhando pelo retrovisor, escutava a música que a fazia lembrar o que deixava para trás. Sabia sim que tudo fazia parte do passado, mas olhava-o com ar de nostalgia melancólica, porque acreditava que nostalgia só podia ser assim. Ela estava enganada.
Tudo que ela deixava para trás na verdade era nada, porque sentimento não se pode tocar e tudo que é físico, na verdade, não pertence a ninguém, tudo é passageiro. Como ela não queria sentir então abandonava cada pedaço do que sentia pelo longo caminho que o carro fazia.
No segundo dia ela andou pela praia. Sentiu-se acolhida pelo mar, abandonado por causa da ressaca. O mar, quando fica de ressaca, devolve à terra tudo que lhe fizeram de mal, devolve a sujeira, devolve o feio, devolve para então se ressurgir.
Logo que ela tocou seus pés no mar, eles se entenderam, mulher e mar , ambos se encontravam numa mesma energia – o vazio, a calma, o vento, a força. Sem pensar então ela firmou e fincou seus pés na areia úmida e grossa, lembrou-se do querer ressurgir da terra, mas descobriu-se ali ser feita de fogo, é o fogo que precisa da água pra mostrar-lhe o tempo de parar. Ela ficou por ali muito tempo. Ela entendeu.
No terceiro dia ela sabia as respostas. Percebera que na história de seu primeiro livro, quando criança, ela se confundira sobre qual era seu personagem e ficou enganada por todo o tempo seguinte: ela não era o menino que fica na estação a espera do seu primeiro amor – que apenas viu passar no trem – ela era a menina que passava, era aquela que estaria no trem indo pra lugares que ninguém sabe, era quem deixa saudades, era o que sempre deveria ser: a verdadeira protagonista da história (porque histórias de criança não deveriam ser feitas pra fazer chorar, deveria ensinar como sorrir, mesmo quando o assunto é amor, ou então, principalmente neste assunto). Ela aprendeu.
Ela era feita de fogo, que se alastra e que invade. Ela sabia que o mar sempre existiria para fazê-la parar, mas o mar, livre da ressaca, lavou-a com água limpa dizendo que ressaca deve vir apenas no segundo dia, não mais que isso. Então ela aceitou e seguiu viagem. Seguiu com a certeza de que apenas o mundo lhe seria suficiente para preenchê-la, que precisava de algo mais, de muito mais. Seguiu mirando seu olhar pra direção correta: pra onde era levada, pra onde se levava.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

"Esperar é reconhecer-se incompleto"

(ou ainda "Sob influencia de Alice")


O saber, ao mesmo tempo em que angustia, liberta. Hoje ele me libertou, quase sempre é o contrario.
Tenho uma necessidade de saber que me prende pela laringe, e se eu não engolir tudo aquilo que se apresenta a minha frente, por este mundo que é tão cheio de conhecimentos e músicas e poemas e arte e pessoas e todo o resto - se eu não sugar tudo isto - é como se meu coração não pudesse continuar batucando em melodia suave durante o resto do dia.
Curioso é que no momento exato em que me encho de conhecimentos do mundo meu coração bate no ritmo de um samba rock, porque o momento das descobertas não pode ter um ritmo puro e simples, é mistura, é pensamento confuso, é explosão. Então preciso sentir o bater do coração chegar até o diafragma pra então conseguir soltar a respiração.
Gosto de quando tudo me inquieta. Quando a música sobre o tempo me faz pensar na vida. Quando o poema engraçado me lembra o amor. Quando passa um lírio correndo pelos meus olhos e então é preciso sentir algo mais que o aroma. Quando meu passado me inquieta (ou o teu, ou o nosso, ou o passado do antepassado de um transeunte que de repente cruzou meu caminho). Quando a política, a estética, a ética, o caráter, a coragem, a vida, tudo, tudo e tudo... passa tão rápido e mesmo assim eu vejo que estão ligados (percebe?).
Todas as coisas e quase nada se ligam pelo mesmo fio, aquele da única reta que só pode passar por dois pontos, então é tudo assim tão destinado?
Algumas perguntas só o tempo responde.
Algumas vezes, o tempo é a própria pergunta!

“Peço-te o prazer legítimo/
E o movimento preciso/Tempo tempo tempo tempo/Quando o tempo for propício/Tempo tempo tempo tempo...
De modo que o meu espírito/Ganhe um brilho definido/Tempo tempo tempo tempo/E eu espalhe benefícios/Tempo tempo tempo tempo...
O que usaremos prá isso/Fica guardado em sigilo/Tempo tempo tempo tempo/Apenas contigo e comigo/Tempo tempo tempo tempo...”
Oração ao Tempo – Caetano Veloso


“A bonança nada tem a ver com a tempestade.” João Guimarães Rosa


“O Lírio foi dedicado à deusa Hera. Diz a lenda que quando Zeus uniu Hercules e Alceme, uma mortal, ele desejava que seu filho participasse mais plenamente da divindade. Para este fim, ele drogou Hera e quando ela dormia ele lhe deu o bebê. Ela teve o bebê colocado em seu peito e o amamentou. Hera acordou no surpresa e afastou o bebê. Gotas de seu leite se espargiram em todo o céu e formaram a Via Lactea. Algumas gotas caíram na terra e daquelas gotas nasceu o primeiro lírio.A lenda romana diz que quando Venus passou pela espuma do mar, ela viu um lírio e encheu-se de inveja da brancura e a beleza dele.Vendo o lirio como um concorrente para a sua própria beleza ela criou um enorme e monstruoso pistilo no centro alvo do lírio.”

“Sábio sempre foi Ulisses, que começou por se fazer de louco.” – João Guimarães Rosa