terça-feira, 28 de julho de 2009

T.P.A

“Me sinto tão só
E dizem que a solidão
até que me cai bem
Às vezes faço planos
Às vezes quero ir
Pra algum país distante
Voltar a ser feliz”
(Maurício - L.U.)

O periquito fez que não com a cabeça quando o moço do realejo perguntou se ele nao queria trocar a minha sorte, tava convicto de que aquilo era realmente pra mim – decidido e teimoso, parecia até mesmo que ele ja me conhecia – e a sorte era clara em dizer que tudo que eu queria estava em qualquer lugar longe daqui. Como quando eu era criança e cantava a tal musica que falava sobre o “outro lado do oceano” ou então quando li meu primeiro livro que era a história de um amor que passou de trem e deixou saudade no menino e ele ficava imaginando pra onde tinha ido aquele trem e como era o lado de lá... Acho que no fundo está tudo escrito, é como se minha vida, não esta que eu vivo aqui, a de verdade, estivesse do outro lado de lá.
Do outro lado de lá está o grande amor da minha vida, está a paz, está o trabalho perfeito, estão os amigos desejados, está a felicidade...
Não que não tenha um pouco de tudo isso aqui, mas aqui não é meu, é como se eu estivesse de substituta na vida de outra pessoa que tirou férias e esqueceu de voltar, dai então quando a outra pessoa voltar e assumir seu posto dai então me vou, vou atras do meu destino que o periquito escreveu na sorte.
Aqui tenho medo da solidão, tenho angustia por estar só, tenho uma ansiedade pra saber o amanha que não me cala, tenho uma tendencia a perfeição que me irrita e faz eu cobrar dos outros muito mais do que eles podem me dar, tem uma mania de razão sempre que não me deixa ser leve, tenho o meu cabelo bagunçado, minhas roupas que nunca me cabem como deveriam, tem a rotina que nunca pára, a bebida que nunca sara, e tem todo este ser que sou eu de um jeito que até poderia ser mas não sou (é a outra).
Quando eu puder ir do outro lado de lá, daí então terei toda a grandeza de ser quem eu posso ser; daí terei tudo aquilo que sempre, secretamente, sonhei ter; dai então serei quem de verdade eu sou mas tenho medo de roubar o protagonismo da outra que substituo e por isso deixo de ser. Mas quando eu puder ir do outro lado de lá...

“Estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda é que nao podia ser; ter nascido era cheio de erros a corrigir. Só tinha tempo de crescer. O que eu fazia para todos os lados, com uma falta de graça que mais parecia o resultado de um erro de cálculo. Na minha pressa eu crescia sem saber pra onde.” (Clarice Lispector)

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