quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Eu irei voar...


"Sei exatamente como é começar um projeto e gostar mais dele do que da pessoa que o inspirou." Sophie Calle
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Um dia isso tudo será visto.
Talvez neste dia algumas pessoas saberão o quanto foram importantes e o quanto poderiam ter sido mais importantes ainda, mais queridas, diria ainda: fundamentais em minha vida e não o foram pelo simples fato de estarem preocupadas com coisas que não a levariam a nada, com valores sem importância e com medos infantis.
Mas não posso, por tudo que é mais sagrado, continuar ainda acreditando que sou apenas isso, que tudo tem que girar em torno disso. Vejam, o mundo é grande e eu preciso voar. Sem amarras e sem concessões quero ser algo maior, quero voar.
Obrigada. Amar-te teria sido a coisa mais facil do mundo e a mais prazeirosa. Mas pra algumas coisas, infelizmente, ainda se precisa de dois.
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"Eu não quero ser adorada. Eu quero ser amada" - Antes que termine o dia

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Não se esqueça que te amo!



“We were both young when I first saw you
I close my eyes and the flashback starts (...)
Little did I know, That you were Romeo (...)
Romeo take me somewhere we can be alone
I'll be waiting all there's left to do is run”
(Love Story)


Silêncio, cheiro, respiração, calor, pele, lágrimas, sorriso, olhos e olhares.
Existem palavras que não se adequam ao momento, atitudes que não se explicam e gestos que não são traduzíveis, apenas o olhar fala, e o olhar é traidor eu sei, mas hoje quero acreditar que ele não possa ser, pois apenas com ele eu posso dizer que te amo.
Amo tão grande, tão intenso e tão puro que não se pode falar, meu silêncio é minha palavra sagrada de amor. Guarda meu silencio, ele é a prova do que realmente me importa, do que sinto. Minhas lagrimas são minha confissão. Guarda também minhas lágrimas em teu coração.
Pela primeira vez não sei e isso me faz mais forte, me faz maior. Porque quero apesar de não saber, e isso é algo difícil pra alguém que sempre tem tudo planejado e assegurado. Não me importo. Não sei e, no entanto, quero, quero intenso, mas também quero simples e calmo.
Quero pelo simples motivo de precisar. Choro lágrimas doces e felizes porque amo. Dou-me de corpo e alma já que não posso evitar. Alegro-me por confiar. Confio no olhar e no que vivemos até hoje, é tudo que me resta, apego-me aos olhares e aos detalhes.
E naquele momento eu realmente achei que não precisaria dizer, que não devia dizer, mas ainda que eu não fale: não se esqueça que te amo.

"Já entrei contigo em comunicação tão forte que deixei de existir sendo. Tu tornas-te um eu. É tão difícil falar e dizer coisas que nunca podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real, entre nós dois? Dificílimo contar: olhei pra você por uns instantes, tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita... Eu chamo isso de estado agudo de felicidade."
Clarice Lispector

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Das coisas que quero!


“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.” C.L.

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Quero um homem que seja homem, uma vida que seja inusitada, uma alegria que seja extasiante, um amor que me tire o fôlego, uma dança, um beijo, um cheiro, um doce, quero tudo e quero agora.
Não quero pouco, não quero migalhas e nem metades. Quero o tudo e o profundo, o inteiro e o que sobrar. Não tenho culpa de ser mimada e de querer apenas o mundo de presente.
Não, não precisa ser pra sempre. Tudo que é pra sempre acaba sendo meio morno - meio frio – e eu quero o quente, quero pegando fogo. Quero hoje, amanhã não me seduz, só quero que seja completo, de resto minha criatividade é que conduz.

"Hoje acordei inteira. Migalhas? Pedaços? Não, obrigada. Não gosto de nada que seja metade. Não gosto de meio termo. Gosto dos extremos. Gosto do frio. Gosto do quente (depende do momento.) Gosto dos dedinhos dos pés congelados ou do calor que me faz suar o cabelo. Não gosto do morno. Não gosto de temperatura-ambiente. Na verdade eu quero tudo. Ou quero nada. Por favor, nada de pouco quando o mundo é meu. Não sei sentir em doses homeopáticas. Sempre fui daquelas que falam "eu te amo" primeiro. Sempre fui daquelas que vão embora sem olhar pra trás. Sempre dei a cara à tapa. Sempre preferi o certo ao duvidoso. Quero que se alguém estiver comigo, que esteja. Mesmo que seja só naquele momento. Mesmo que mude de idéia no dia seguinte."
Fernanda Mello

sábado, 26 de setembro de 2009

“La peau morte des émotions d'autrefois."



Sem ti as emoções de hoje são apenas pele morta das emoções de ontem, isso sim.
Tudo que projeto de amor, de paixão, de tesão vem inspirado em qualquer coisa que tive contigo – digo sobre todas aquelas coisas que não eram nem amor, nem paixão e nem tesão, mas sim aquilo que eu julgava ser todas estas coisas, aquilo que vinha com um misto de necessidade e supérfluo, de querer para sempre o que não se suportava por mais de meia hora.
As minhas experiências, todas, sempre comparadas a ti fazem-me avaliar como eras pouco e vazio e, no entanto, ando por ai procurando alguém que seja um pouco “pouco e vazio”, e quando não encontro, visto-me, eu mesma e com orgulho, de “pouca e vazia” pra algum outro... e magôo, tal como já fui magoada, só assim sei amar, só assim aprendi.
Transformei nosso amor em pele morta e quando percebi estava, eu também, às vezes um pouco pele, às vezes um pouco morta.
Quando resolvo ser pele, quando aventuro-me, quando vou, quando te esqueço... eu já nem sei quem sou, sou outra, sou qualquer uma. Porque a "qualquer uma" de mim gosta de aventuras e de alegria, gosta de sentir o gosto do perigo, acha tudo inevitável. A "qualquer uma" não tem medo de ferir, nem de ser ferida, vive o feliz e o presente. Mas a "qualquer uma" adormece, esquece, e volto a ser eu, incompleta e sem referências.
Volto a querer bem menos do que mereço... lembro de ti.

“Experimento pessoas como experimento comida baiana, “tá, deixa eu ver que gosto tem, mas não muito pra não morrer aqui, longe de casa, debaixo desse sol e dessa alegria”.”


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ponto de Partida!


(ou "Porque avançar as vezes é retroceder e voltar ao mesmo lugar nem sempre é recuar")

"Serena: Não faz o mínimo sentido...
Blair: Sentimentos nunca fazem . Eles te deixam confusa. E a levam por um caminho todo, só para te largar onde começou”

Eu sei que estou no mesmo lugar que estava há cinco anos, mas também sei que não sou a mesma de cinco anos atrás.
Eu sei que não ficaste comigo, mas também sei que não me deixaste sozinha, porque tenho muito, tenho até demais.
E sei também que você está ali parado, não sozinho e não igual, exatamente como eu, e, no entanto, algo em nós, apesar de iguais, não se completa mais, não combina, não faz sentido e não me satisfaz.
E eu que te conhecia, que sabia e que sentia, não sinto mais, não posso e não quero. O que era você ficou, o que era eu fugiu,
ou vice-versa,
tanto faz.

“Donna: Well, I'm expecting somebody.
Frank: Instantly?
Donna: No, but any minute now.
Frank: Any minute? Some people live a lifetime in a
minute.”

terça-feira, 8 de setembro de 2009

"Mariana foi pro mar"


No primeiro dia, durante o tempo inteiro, ela dirigia na estrada olhando pelo retrovisor, escutava a música que a fazia lembrar o que deixava para trás. Sabia sim que tudo fazia parte do passado, mas olhava-o com ar de nostalgia melancólica, porque acreditava que nostalgia só podia ser assim. Ela estava enganada.
Tudo que ela deixava para trás na verdade era nada, porque sentimento não se pode tocar e tudo que é físico, na verdade, não pertence a ninguém, tudo é passageiro. Como ela não queria sentir então abandonava cada pedaço do que sentia pelo longo caminho que o carro fazia.
No segundo dia ela andou pela praia. Sentiu-se acolhida pelo mar, abandonado por causa da ressaca. O mar, quando fica de ressaca, devolve à terra tudo que lhe fizeram de mal, devolve a sujeira, devolve o feio, devolve para então se ressurgir.
Logo que ela tocou seus pés no mar, eles se entenderam, mulher e mar , ambos se encontravam numa mesma energia – o vazio, a calma, o vento, a força. Sem pensar então ela firmou e fincou seus pés na areia úmida e grossa, lembrou-se do querer ressurgir da terra, mas descobriu-se ali ser feita de fogo, é o fogo que precisa da água pra mostrar-lhe o tempo de parar. Ela ficou por ali muito tempo. Ela entendeu.
No terceiro dia ela sabia as respostas. Percebera que na história de seu primeiro livro, quando criança, ela se confundira sobre qual era seu personagem e ficou enganada por todo o tempo seguinte: ela não era o menino que fica na estação a espera do seu primeiro amor – que apenas viu passar no trem – ela era a menina que passava, era aquela que estaria no trem indo pra lugares que ninguém sabe, era quem deixa saudades, era o que sempre deveria ser: a verdadeira protagonista da história (porque histórias de criança não deveriam ser feitas pra fazer chorar, deveria ensinar como sorrir, mesmo quando o assunto é amor, ou então, principalmente neste assunto). Ela aprendeu.
Ela era feita de fogo, que se alastra e que invade. Ela sabia que o mar sempre existiria para fazê-la parar, mas o mar, livre da ressaca, lavou-a com água limpa dizendo que ressaca deve vir apenas no segundo dia, não mais que isso. Então ela aceitou e seguiu viagem. Seguiu com a certeza de que apenas o mundo lhe seria suficiente para preenchê-la, que precisava de algo mais, de muito mais. Seguiu mirando seu olhar pra direção correta: pra onde era levada, pra onde se levava.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

"Esperar é reconhecer-se incompleto"

(ou ainda "Sob influencia de Alice")


O saber, ao mesmo tempo em que angustia, liberta. Hoje ele me libertou, quase sempre é o contrario.
Tenho uma necessidade de saber que me prende pela laringe, e se eu não engolir tudo aquilo que se apresenta a minha frente, por este mundo que é tão cheio de conhecimentos e músicas e poemas e arte e pessoas e todo o resto - se eu não sugar tudo isto - é como se meu coração não pudesse continuar batucando em melodia suave durante o resto do dia.
Curioso é que no momento exato em que me encho de conhecimentos do mundo meu coração bate no ritmo de um samba rock, porque o momento das descobertas não pode ter um ritmo puro e simples, é mistura, é pensamento confuso, é explosão. Então preciso sentir o bater do coração chegar até o diafragma pra então conseguir soltar a respiração.
Gosto de quando tudo me inquieta. Quando a música sobre o tempo me faz pensar na vida. Quando o poema engraçado me lembra o amor. Quando passa um lírio correndo pelos meus olhos e então é preciso sentir algo mais que o aroma. Quando meu passado me inquieta (ou o teu, ou o nosso, ou o passado do antepassado de um transeunte que de repente cruzou meu caminho). Quando a política, a estética, a ética, o caráter, a coragem, a vida, tudo, tudo e tudo... passa tão rápido e mesmo assim eu vejo que estão ligados (percebe?).
Todas as coisas e quase nada se ligam pelo mesmo fio, aquele da única reta que só pode passar por dois pontos, então é tudo assim tão destinado?
Algumas perguntas só o tempo responde.
Algumas vezes, o tempo é a própria pergunta!

“Peço-te o prazer legítimo/
E o movimento preciso/Tempo tempo tempo tempo/Quando o tempo for propício/Tempo tempo tempo tempo...
De modo que o meu espírito/Ganhe um brilho definido/Tempo tempo tempo tempo/E eu espalhe benefícios/Tempo tempo tempo tempo...
O que usaremos prá isso/Fica guardado em sigilo/Tempo tempo tempo tempo/Apenas contigo e comigo/Tempo tempo tempo tempo...”
Oração ao Tempo – Caetano Veloso


“A bonança nada tem a ver com a tempestade.” João Guimarães Rosa


“O Lírio foi dedicado à deusa Hera. Diz a lenda que quando Zeus uniu Hercules e Alceme, uma mortal, ele desejava que seu filho participasse mais plenamente da divindade. Para este fim, ele drogou Hera e quando ela dormia ele lhe deu o bebê. Ela teve o bebê colocado em seu peito e o amamentou. Hera acordou no surpresa e afastou o bebê. Gotas de seu leite se espargiram em todo o céu e formaram a Via Lactea. Algumas gotas caíram na terra e daquelas gotas nasceu o primeiro lírio.A lenda romana diz que quando Venus passou pela espuma do mar, ela viu um lírio e encheu-se de inveja da brancura e a beleza dele.Vendo o lirio como um concorrente para a sua própria beleza ela criou um enorme e monstruoso pistilo no centro alvo do lírio.”

“Sábio sempre foi Ulisses, que começou por se fazer de louco.” – João Guimarães Rosa

domingo, 30 de agosto de 2009

Das coisas que ninguém pode saber!


Estava tão acostumada a fingir – como rotina, costume e profissão – que conseguia convencer a todos sobre o sentimento que queria transparecer. Às vezes fingia um sorriso, outras vezes uma virtude ou então uma opinião. Era triste tantas vezes no dia que perdera a conta, mesmo porque contar tristezas era difícil por ela mesma se confundir sobre quais momentos realmente era ou deixara de ser, por fingir tão bem.
Toda a sua vontade era a de ficar deitada durante o dia inteiro por horas, sem dormir, sem ouvir musica, de preferência sem pensar, apenas estar ali com toda aquela insegurança que era ser ela mesma. A cama e o quarto fechado davam-lhe uma impressão confortável e ao mesmo tempo angustiante de ser apenas ela.
Fingia não ouvir quando batiam à porta com convites para sair, era tão difícil recusar um convite pra se divertir porque todos acreditavam que era disso que ela gostava e ao mesmo tempo aceitá-los era ir de encontro com o que pregava a si mesma (naqueles momentos de solidão sem pensar e sem dormir). Algumas vezes ela fazia um esforço imenso pra sair do casulo que se encontrava e ia, mas o tempo todo pensava que aquilo ali era como se fosse um pagamento pelo fato de viver, como se tivesse pagando o aluguel do pedacinho de mundo que ocupava, e que, no entanto, provavelmente, também não era o dela.
Ela saia de casa pra se divertir apenas pra provar que sair nunca mais poderia ser divertir, apenas pra medir qual o grau de solidão era maior (quando estava só ou acompanhada). Saia como obrigação, como pagamento, como promessa, como provação.
Sempre voltava com a certeza da certeza, certeza esta que ela não queria ter. Certeza de ter nascido pra ser só e que apenas quando não era ela mesma poderia ser dupla, casal, trio ou grupo. Somente quando fosse outra poderia pertencer, enquanto isso, na maioria do tempo, lutava pra ser sozinha e sincera durante, pelo menos, o tempo que merecia e que precisava ser.

“Eu vou porque é preciso ter histórias, viver coisas, sair de casa, mas nunca vou realmente. Sempre me sinto ocupando de favor o lugar da personagem real que está doente ou enlouqueceu. Assim que coloco o pé pra fora, viro uma substituta de qualquer um que sabe viver. Uma coadjuvante de mim que rouba a cena porque os engraçados sempre roubam” Tati Bernardi

sábado, 29 de agosto de 2009

Às vezes dói mais!


Quando alguém diz teu nome, ou lembra alguma historia que te envolva, quando olho acidentalmente a foto que ainda não tive coragem de arrancar do mural que fica propositalmente em cima da minha cama, quando escuto alguma música, quando leio Clarice, quando fico tempo demais sem ter ninguém pra abraçar, quando bebo, quando tenho insônia, quando tenho sonhos contigo... daí dói mais!
Na maioria do tempo consigo fingir que já esqueci, consigo até mesmo acreditar que você nunca existiu, mas infelizmente nem todos os meus dias são tão ocupados. Pra dizer a verdade ando ocupando meus dias apenas com o que não é diversão. Ando de luto sem usar o preto, e apenas não visto preto pra que ninguém me pergunte qual a minha dor, porque se eu começar a falar lembrarei, então ando por ai colorida só pra não ter que falar de ti, e mesmo assim, as vezes ainda dói tanto.
Quando tudo o que há em mim é o silencio da ausência (é o nada que sempre tive e enfeitava-o de tudo) não faço bagunça, não canto e nem me maquio. Não procuro abrigo em lugar algum que não seja do lado de dentro. Quando tudo o resta é o silêncio, me faço também silenciosa. Quem sabe assim, desta maneira sincera e respeitosa, eu consiga me refazer na mulher que acredito ser e que ainda não sou, na mulher que não se permite doer uma dor que não faz sentido.
Enquanto faço de mim mesma meu abrigo e do silêncio minha solidão, vou dormir pra que este mistério que é o mundo que roda-roda e parece não sair do lugar não me angustie demais, para que eu ainda possa acreditar no amanhã, possa acreditar em mim, no amor que ainda virá, nos trevos de quatro folhas, numa paz que não doa o coração...

“A gente faz as coisas pra matar dentro da gente e morre junto. A gente faz pra ferir quem pouco sente nossa existência e vai, aos poucos, deixando de existir pra gente mesmo. A gente faz pra provar que também existe sem amor e acorda se procurando no dia seguinte.” Tati Bernardi

domingo, 23 de agosto de 2009

Clarice entenderia!



"... perder-se também é caminho" C.L.


O único problema é a angustia, ela que me aprisiona nesta sensação de estar inerte, sem ela a sensação de descoberta já teria sido transformada em certeza.
A angustia de não ter, não querer e de não saber faz com que eu tenha sensações tão intensas querendo explodir e não saiba como. Foi quando fiquei apenas comigo mesma é que percebi que talvez eu não saiba pra onde ir, não por falta, por excesso de opções.
Neste processo de descoberta que nunca acaba percebi o quanto de tudo que existe dentro do nada. É o nada que me angustia... o nada e o tudo.

“Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.” Miguel Torga

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Eu VOU só!



(Texto livremente inspirado na imagem, na música, na terra, no cheiro, na cor... e em mim)

Podia ter caído e não querer levantar. Podia me lamentar, me ausentar, me abandonar... Podia ter ficado com preguiça de amar.
Mas a terra está molhada (terra molhada pede pra ser plantada e minha vista pede paisagem).
Eu, da janela do meu quarto, devo admitir, ainda olhava a tudo um pouco desconfiada, sem saber se o que era flor em mim já tinha brotado o suficiente pra me expandir.
Pensava se não era melhor aumentar o tempo de semeio até que as sementes brotassem pela minha pele.
Foi aí que avistei um fino raio de sol, ainda tímido, mas fazendo brilhar pequenas gotinhas que insistiam em cair fingindo ser garoa, lembrando-me de ditados, de cores, de cheiros e sensações, que eram minhas e que não vinham de ninguém, eram minhas e do meu contato com o que é natural.
Quando me vi, estava ali, respirando outros ares, brincando de recomeçar, partindo de mim, pousando em mim. Fazendo daquela terra molhada meu futuro jardim, com sementes que nasciam do meu olhar de criança que só quer brincar, de mulher que é capaz de amar (principalmente a si mesma).


“Eu vou só
Vou buscando um tempo de sonhar
Vou chegar
Vai saber
Que muda o dia de qualquer um
Se o sol chegar, é bom
Tudo é melhor
Com essa cor

No fundo
O mundo é que nem um
Chão de sementes
Eu faço da terra molhada
O meu jardim
Espero as flores se abrirem
Como se a gente soubesse
Que o amor nunca vai ter fim”

Terra molhada!



“Pode rir agora, que estou sozinho
Mas não venha me roubar”


Depois do fogo surgiu o choro, o sono, o acordar, a chuva, solidão, ausência... Terra, depressão, tombo, pés, paz, paciência... surgiu a dança, esperança, corrida, bonança...
Em meio ao que era o nada, surgiu o tudo e entre o tudo que veio, veio um desejo por começar da terra, começar do nada, começar de mim.
Então me rendi a amar apenas o que eu tinha, apenas o que era meu, apenas eu.

sábado, 15 de agosto de 2009

Fogo no jardim!


Não foi um espinho grande, era um pequeno espinho e, no entanto, a menina gritou muito alto. Já estava mais do que cansada de ser ferida todos os dias, e já começava a pensar que nem valia tanto a pena a beleza das flores pelo trabalho que elas davam, pela chuva que tinha que tomar por não ter onde se proteger, e principalmente pelos espinhos que cada uma tinha.
O jardim não entendeu nada, ele se achava tão bonito, forte e convincente, achava mesmo que a menina nunca se cansaria de morar ali, também a menina achava que não desistiria assim tão fácil... tão fácil? Ela que viu este jardim ser plantado como um presente pra ti e abandonado logo em seguida (pelo tal Menino do Leste), ela que dispensou todos os bouquets que fora presenteada em nome de um amor incondicional pelo tal jardim, ela que abandonou tua casa, teus costumes e teu orgulho próprio pra morar onde só ela acreditava ser o seu lugar, ela , ela , sempre ela. O jardim apenas ficou ali e achou-se superior a toda e qualquer tempestade ou tempo ruim.
A menina se revoltou. Cansou da dita superioridade do tal jardim por todos os outros. Ela mesmo conseguia lembrar de todos os jardins mais belos que um dia já tinha conhecido (aliás, lembrava também que já havia conhecido donos de jardins melhores do que o tal Menino do Leste) e o que irritava a menina, de verdade, era a não presença do criador do jardim em nenhum momento, porque ela havia de cuidar do jardim sozinha, sendo que fora os dois que o cultivaram? Ela se sentia meio mãe solteira de um jardim, justo ela que não tinha habilidade alguma pra ser mãe.
Foi então que ela desistiu da idéia de matar o jardim pouco a pouco, flor a flor... ela percebeu que assim ela também morria aos pouquinhos. Não. Era preciso matá-lo com um só golpe, sem deixar vestígios ou chance de recuperação. Sem pensar duas vezes, ela pegou um fósforo nas mãos, acendeu e jogou na primeira flor que viu. Foi pra calçada e ficou ali observando o jardim se incendiar por inteiro. Não havia choro, nem riso, nem orgulho, nem tristeza, nem arrependimento, nem nada. Ela lembrou-se de algo e, num gesto bruto, correu, atravessou a rua, entrou em casa, procurou pelo seu baú, procurou pela asa de anjo que há anos deixava guardada, pegou, correu, atravessou a rua e, sem pensar duas vezes, jogou a asa justamente no lugar onde o fogo estava mais forte. Ficou ali observando. Quando tudo do jardim virou apenas chama ela respirou aliviada. Deu as costas e voltou para sua casa.
Deitada na cama, a menina sentiu-se bem, sentiu-se leve e completamente vazia, o que era bom, porque agora teria que passar o resto dos seus dias cuidando do seu próprio jardim, aquele que ela mesma plantaria e cuidaria – aquele que morava dentro dela.
Lembrou-se da janela e, pela primeira vez, não sentiu vontade nenhuma de abri-la, nem para ver o jardim, nem para esperar pelo menino que nunca a quis amar.

“E cada chaga que a gente traz na alma
É a confirmação de que a ferida sara (...)
Pois ninguém vive conto de fadas”

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Inevitável



“Todo mundo tem muita boa vontade
E eu digo que estou triste, mas eu nem tô (...)
Todo mundo quer cuidar de mim
e na verdade o que eu quero é cair”
(Brava)


A queda é inevitável, foi uma escolha. Não é um simples cair, é uma queda voluntária, um se abandonar, um plano, uma ousadia...
Neste momento minhas previsões não funcionam tão bem quando comparadas a outros momentos racionais, pois não se trata de razão, contudo também não é inconsciente, é uma atitude irracional consciente, se é que é possível!? (e se deixar-se cair pode ser considerado mesmo uma atitude, creio eu que a não resistencia também é ação, não?). Sendo assim, não posso prever os resultados da queda, nem tão pouco o impacto ou seu tamanho.
O que me sobra é imaginar se durante a queda, alguém se colocará a postos a fim de amortecê-la, se terei vontade de subir a montanha novamente, se me contentarei com os baixos montes, ou ainda, se a dor trará cicatrizes visíveis às outras pessoas.
E tudo isso passa na minha cabeça neste instante de segundo que dura a semana inteira, que dura o mês, que dura o tempo que for necessário pra que esta solidão que você deixa sempre quando vai embora (ou este vazio que me deixa ainda mais leve pra queda) me conduza até o chão.
Eu, que de sozinha e leve, ando cada vez mais triste por perceber que a queda não me causa mais tanto medo, porque é tudo o que me resta. É inevitável.

“...faz de conta que ela não estava chorando por dentro - pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado” (Clarice Lispector)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O dia em que a menina foi morar no jardim!


A menina decidiu morar no jardim, ou foi o jardim que escolheu a menina? Ela não sabia responder, mas estava confiante de que havia apenas duas possibilidades para o problema que tinha em mãos: ou ela mataria o jardim (folha por folha) ou nunca mais sairia dali. Era preciso matar o jardim, colocar fogo nas lindas flores que ela havia cultivado durante tanto tempo, mas pra isso acontecer ela teria que se desapegar totalmente dele.
Fingir que ele não era importante, ou que as flores que alguns moços lhe presenteavam eram melhores e mais bonitas não adiantava mais (ainda que fossem realmente). Por isso ela foi morar no jardim, pra se cansar dele, pra enjoar (do perfume, da cor e, principalmente, dos espinhos).
Estava convicta de que se percebesse o trabalho que dava cultivar o jardim, da dor que causava os espinhos e o sol quente, da tristeza de tentar plantar alguma flor bonita e tê-la morta por ervas daninhas... daí sim, ela ia conseguir se livrar do amor pelo jardim.
Era ainda o primeiro dia e a ausência de sua casa, de sua cama, e das flores de bouquet na janela já causava tristeza. Mas ela era menina decidida e teimosa, por isso continuaria ali, continuaria fingindo que por enquanto estava bem, tranqüila e satisfeita. Aos poucos, ela tinha certeza, o sentimento pelo jardim iria mudar, enjoaria da rejeição que ele fazia questão de demonstrar por ela, e ainda tinha esperanças de que a cada dia choraria menos antes de dormir... até o dia que simplesmente não choraria mais.

"Eu sei, eu sei, o eterno clichê “isso passa”. Passa sim e, quando passar, algo muito mais triste vai acontecer: eu não vou mais te amar.
É triste saber que um dia vou ver você passar e não sentir cada milímetro do meu corpo arder e enjoar. É triste saber que um dia vou ouvir sua voz ou olhar seu rosto e o resto do mundo não vai desaparecer. O fim do amor é ainda mais triste do que o nosso fim.
Meu amor está cansado, surrado, ele quer me deixar para renascer depois, lindo e puro, em outro canto, mas eu não quero outro canto, eu quero insistir no nosso canto.
Eu me agarro à beiradinha do meu amor, eu imploro pra que ele fique, ainda que doa mais do que cabe em mim, eu imploro pra que pelo menos esse amor que eu sinto por você não me deixe, pelo menos ele, ainda que insuportável, não desista."
Tati Bernardi

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Nada?



Então tudo isso que passa pela minha cabeça numa velocidade incrível, mas que têm todos os detalhes (e cores e cheiros) pra você é a mesma coisa que nada?
Então o encontro depois de um ano inteiro, da forma menos convencional do mundo, é nada? O beijo depois de sei lá quanto tempo é nada? Nossas idas e vindas, querer e não poder, risos e lágrimas, encontros e despedidas.... é nada?
Então tanto faz o tempo ou a saudade, a vontade, o cheiro, a respiração, a pele, o pedido... nada, nada??
Então quer dizer que tanto faz? Que se eu fugir e não voltar nunca mais, se nunca mais você tiver a minha carência cotidiana, a minha voz no teu ouvido, o meu cheiro no teu corpo, minhas mensagens, meu número tocando o teu telefone, minhas palavras desmedidas, minhas mãos, unhas, peito e boca... tanto faz?
Então eu fantasiei, acreditei naquilo que eu não ouvia, fingi que era tudo sincero quando nossos olhos fechavam e não me importei com teu grito mudo dizendo não querer?
Então é só? E tudo que eu tenho é o teu medo engessado na parede do meu quarto, aquilo que eu teimo em olhar e pensar que é passado, que é futuro, que é você?
Então pra você tanto faz? Porque você não guarda nada do nosso passado, não tem nenhuma lembrança, e tudo (ou qualquer coisa) foi sem relevância, carta ruim do baralho, papel jogado fora junto com teu entulho de homem adulto, passado que não volta?
Então é isso?
Então é NADA?
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"Coisas que eu sei, as noites ficam claras no raiar do dia, coisas que eu sei, são coisas que antes eu somente não sabia, agora eu sei"
("Coisas que eu sei")

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Homem e Mulher!


Eu posso amarrar minhas mãos, fechar minha boca com esparadrapo e fingir um desmaio. Daí assim você me leva fingindo que tudo isso é um seqüestro, fingindo que eu não quero, fingindo que eu não faço questão. Afinal de contas “eu te amo e nem ligo”, não ligo pro amanha, pro passado, pras nossas vidas confusas, pros nossos futuros que não se cruzam nem hipoteticamente ou pro fato de você nem saber o que tanto eu nem ligo.
Toda mulher sabe, tem aquele homem que a gente ama pela gentileza, outro que é pela inteligência, tem o moço bonzinho que sempre tá ali, ou aquele que faz a gente chorar por ser tão chucro, tem também o melhor amigo, o que a gente gostaria que não fosse gay então se sentiria mais mulher se conseguíssemos vencer isso, tem aquele que tem dinheiro e paga todas nossas contas e isso nos seduz, ou então aquele que não tem um puto no bolso e a gente se sente bem sucedida pagando tudo.... mas quando o negócio é pele e cheiro, daí não tem jeito, se a nossa pele sente falta da pele de outra pessoa, se o cheiro fica no ar por todo lugar que você vai depois, se escuta a respiração no seu ouvido antes de dormir, daí minha filha, não tem jeito, não há o que você faça ou quem você tenha em seus braços, você nunca vai esquecer este cara!
Podem vir amigas falando sobre sua incompetência no quesito amor, pode vir mãe, pai, avó, terapeuta e caralho a quatro, porque você quer realmente ter aquela pele encostada na tua, ter a respiração no pescoço e o cheiro cravado na tua pele, tanto faz se com isso vem os problemas ou a dificuldade. Quando tudo o que você gosta naquele homem é o fato de ele ser simplesmente homem, daí minha filha, é melhor ceder ao fato de você ser simplesmente uma mulher.

“Prometi não tentar entender e apenas sentir, sentir mais uma vez, sentir apenas a falta de lamber suas coxas, a pele lisa, o joelho, a nuca, o umbigo, a virilha, as sujeiras. Sinto falta do mistério que era amar a última pessoa do mundo que eu amaria."
Tati Bernardi

terça-feira, 28 de julho de 2009

T.P.A

“Me sinto tão só
E dizem que a solidão
até que me cai bem
Às vezes faço planos
Às vezes quero ir
Pra algum país distante
Voltar a ser feliz”
(Maurício - L.U.)

O periquito fez que não com a cabeça quando o moço do realejo perguntou se ele nao queria trocar a minha sorte, tava convicto de que aquilo era realmente pra mim – decidido e teimoso, parecia até mesmo que ele ja me conhecia – e a sorte era clara em dizer que tudo que eu queria estava em qualquer lugar longe daqui. Como quando eu era criança e cantava a tal musica que falava sobre o “outro lado do oceano” ou então quando li meu primeiro livro que era a história de um amor que passou de trem e deixou saudade no menino e ele ficava imaginando pra onde tinha ido aquele trem e como era o lado de lá... Acho que no fundo está tudo escrito, é como se minha vida, não esta que eu vivo aqui, a de verdade, estivesse do outro lado de lá.
Do outro lado de lá está o grande amor da minha vida, está a paz, está o trabalho perfeito, estão os amigos desejados, está a felicidade...
Não que não tenha um pouco de tudo isso aqui, mas aqui não é meu, é como se eu estivesse de substituta na vida de outra pessoa que tirou férias e esqueceu de voltar, dai então quando a outra pessoa voltar e assumir seu posto dai então me vou, vou atras do meu destino que o periquito escreveu na sorte.
Aqui tenho medo da solidão, tenho angustia por estar só, tenho uma ansiedade pra saber o amanha que não me cala, tenho uma tendencia a perfeição que me irrita e faz eu cobrar dos outros muito mais do que eles podem me dar, tem uma mania de razão sempre que não me deixa ser leve, tenho o meu cabelo bagunçado, minhas roupas que nunca me cabem como deveriam, tem a rotina que nunca pára, a bebida que nunca sara, e tem todo este ser que sou eu de um jeito que até poderia ser mas não sou (é a outra).
Quando eu puder ir do outro lado de lá, daí então terei toda a grandeza de ser quem eu posso ser; daí terei tudo aquilo que sempre, secretamente, sonhei ter; dai então serei quem de verdade eu sou mas tenho medo de roubar o protagonismo da outra que substituo e por isso deixo de ser. Mas quando eu puder ir do outro lado de lá...

“Estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda é que nao podia ser; ter nascido era cheio de erros a corrigir. Só tinha tempo de crescer. O que eu fazia para todos os lados, com uma falta de graça que mais parecia o resultado de um erro de cálculo. Na minha pressa eu crescia sem saber pra onde.” (Clarice Lispector)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

De terno e gravata!



“Teus olhos, meu clarão, me guiam dentro da escuridão.
Teus pés me abrem o caminho, eu sigo e nunca me sinto só.
Você é assim, um sonho pra mim, quero te encher de beijos.”
(Velha Infância)

É então que eu deixo você andar na frente e você pára, me espera porque quer ir ao lado, quer conversar, quer olhar e eu sorrio porque acho bonita a atitude, afinal eu nem sei o caminho e sempre vou pro lado errado e mesmo assim você quer que eu vá lado a lado.
De repente você dá dois passos mais longos, afinal tem uma porta e você tem que abri-la e estou ali de frente com um ser de terno e gravata, com postura de homem poderoso, abrindo a porta pra mim, eu que nem sentar aprendi direito ainda, que fico sorrindo que nem boba pra faxineira que passou pela gente, porque ela deve ter notado que este homem de terno e gravata abriu a porta pra menina de moletom com o cabelo bagunçado, ela notou, com certeza notou e pensou “porque será que ela merece isso e eu não?” e não, eu não mereço nada disso não, este homem que cismou que eu sou menina que tem que ser tratada cheia de modos, mas não sou assim, acredite Srª Faxineira que me olha como se eu fosse bem mais bonita do que sou.
O homem da banca também notou, afinal chego eu ali, uma menina tomando chuva e querendo fazer amizade, pergunto a primeira coisa que me vem a cabeça “qual o nome desta rua?” e ele me trata grosseiramente, afinal eu sou apenas uma menina tomando chuva a espera de alguém que pra ele tanto faz, mas eu sei que se ele fosse um homem de terno e gravata ele teria me tratado melhor, teria oferecido uma cadeira pra eu sentar e esperar, esperar o meu homem de terno e gravata. Então ele chega num carro bonito, carro de quem já tem três filhos que estudam em escola boa, e abre a porta. Assim eu mostro pro tal “Dono de Banca que Nada Sabe de Mulher” que tem gente que sabe como tratar uma mulher, afinal ele do alto do seu terno e gravata lastimou a demora que o transito provocou. Lastimou também a chuva que tumultua o cabelo das meninas que estão nas capas de revista, mas o meu não, é só um cabelo e até que gostei dele com estas pontas enroladas, nem me incomodei.
Teu irmão provavelmente reparou que não sou a tal menina que deve ser tratada cheia de modos, como você pensa, afinal ele viu que fiquei sem jeito ao conhecê-lo, que disse um “oi” de criança que morre de medo de adulto e fui me esconder embaixo da sua saia, ou melhor: do seu terno, mas você estava ocupado demais pensando em como me fazer feliz que talvez nem tenha percebido. Daí então, conheço teu irmão, teu apartamento, tua cozinha, tua varanda, a pomba que pousou ali do nada e você cismou em ver, e teu microondas, e o chão, o sofá, a TV... calma, calma que ainda estou tentando processar tudo, e você tira o terno e arregaça as mangas da camisa social, daí tanto faz a pomba, o chão ou o sofá, talvez se eu te abraçar agora eu não solte nunca mais. E não solto, eu quero abraçar e preciso, afinal, penso “se eu não aproveitar o momento ele simplesmente passa”, eu sei.
Eu, como menina que sei qual o meu lugar, estou satisfeita em ficar na metade do caminho, sei que seu terno e gravata pede compromissos e horários, mas você faz tudo errado, você desvia o caminho e prefere percorrer uns 60 km pra me levar embora pra casa, teus compromissos podem esperar, mas eu tenho que ficar em segurança, assim como não posso abrir as portas sozinhas, como não posso ficar sentada longe, como não posso fazer meu prato sozinha, como não posso resolver aquele problema com a minha mãe sozinha... você ajuda, me estende a mão e me leva embora pra casa.
Depois disso tudo, chego em casa e sorrio. Sozinha, eu sorrio já com certa arrogância, afinal depois disso tudo já me acostumei que posso ser tratada cheia de “não me toques”, que posso ser cuidada com carinho, e por um homem de terno e gravata. Já quase acredito que mereço!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

"“I got my angel now"



“I got my angel now
It's like I've been awakened
Every rule I had you breaking
It's the risk that I'm taking
I ain't never gonna shut you out”


(“Halo” - Beyoncé)

Enfrentei o sono, a gripe, a chuva, ônibus, um grupo inteiro de reggae tocando no meu ouvido às oito da manhã, filas, espera, fome... tudo poderia parecer um castigo se eu não estivesse exatamente onde eu deveria estar, se eu não tivesse a certeza que você estava engolindo muito mais do que contratempos, estava engolindo seu orgulho e quebrando com todas as justificativas racionais que diziam que eu não poderia estar ali de mãos dadas com você.
Ali, você estava esquecendo os fatos em nome de algo que não sabemos o que é, mas que vira abraço e olhar, abraço apertado de quem diz “não quero te perder nunca mais” e olhar carinhoso de quem diz “você sabe que nunca me perdeu” e então assim a gente vira um casal, marido e mulher planejado como vamos viver com toda a fortuna que você ira ganhar sendo o homem de negócios todo cheio de responsabilidade que você esta se tornando, e então a gente percebe que realmente a minha blusa de moletom com pom-pom na ponta não combina com seu terno e gravata, mas brinco de ser tua estagiária e convenço, eu sempre convenço, te convenci até mesmo que nada do que fiz de errado vale mais do que aquilo que podemos ter, e você sorri e não percebe que também sorrio enquanto te abraço forte.
Então você me trás de volta pra casa, prometendo que até amanha a saudade já vai te fazer presente, você me deixa na porta de casa, com um beijo e um sorriso, afinal, você sempre sorri e tudo que eu posso dizer é: Obrigada!, e digo esta palavra repetidas vezes durante o resto do dia, sorrindo, porque com você eu sempre sorrio.

“Ele ri mais um pouco, segura firme na minha mão, eu quero contar, ele merece saber, eu estou amando e super feliz de brincar de amar e ser feliz, mas olha, querido, daqui a pouco eu volto pra ele. O silêncio. Eu sempre volto pro silêncio. Mas agora acelera aí, apita, solta fumaça, sei lá como é andar de trem, mas sempre ando. Vamos ver até onde eu aguento dessa vez.” Tati Bernardi

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Cabelo liso e idéias enroladas dentro da cabeça!




Hoje acordei com vontade de brigar, então dispensei o menino bonzinho a quem eu devia uma desculpa. Afinal eu que errei e não posso, infelizmente, continuar culpando-o pelo meu erro. Mas posso culpar aquele outro que me fez adquirir um medo ridículo de me envolver, é isso mesmo, se errei com o outro, se ando errando direto por aí a culpa é toda daquele que um belo dia acordou e resolveu não me amar mais, então ele que vá pro inferno, que morra. Vontade de xingá-lo e de dizer tudo que ta aqui engasgado, mas ele não me escuta (o menino bonzinho escuta e talvez ate admitisse que eu ofendesse ele em nome daquilo que ele não fez, mas não... tenho que ter dignidade o suficiente ao ponto de não descontar nele), então fico aqui gritando, completamente pro ar, afinal ele finge não me escutar, finge não estar ali: mas olha aqui, eu odeio tudo o que você fez por mim e acredite, vou sair desta, o mais cedo possível. Vou me libertar de todo este medo que contagia.
Mas a ansiedade é grande demais, então chamo pelo bonzinho, preciso ter alguém pra fingir que amo e que não estou contente, porque daí este vai poder me dizer que se preocupa comigo, que realmente quer me ver pra acertar tudo isso, pra acertar minha vida e daí então eu vou ficar feliz. Ô porcaria de carência que faz com que eu enxergue tudo invertido, que eu queira o que não quero, que eu me contente com o pouco de um e exija a vida do outro.
Cansei, cansei inclusive de desabafar, isso tudo não serve pra nada mesmo, ninguém escuta, nem eu mesma escuto as coisas que grito pra mim. Então quando alguém ai tiver um remédio bom pra coração burro me da um grito que eu corro comprar, porque ando precisando e médico nenhum quer receitar. Enquanto isso, fico aqui gritando, coisas que nem sei pra que gritar, afinal minha cabeça tá cheia de coisa que precisa ser resolvida e meu coração tá completamente vazio, pedindo ou melhor gritando pra que alguém possa ocupá-lo, antes que ele perceba que não consegue, que não é capaz disso tudo ai que alguns chamam de amor. E não serve nenhum desses desta lista aqui, não bastaria nenhum que se candidatasse, porque na verdade não quero ninguém pra ocupar coração nenhum, basta que queiram ocupar e isso tem, tem quem queira, mas não quero, quero apenas a lista. Deu pra entender? Pois é, agora imaginem o que é viver com todo este barulho na minha cabeça... por isso hoje acordei com vontade de brigar.

“Hoje eu levantei com sono com vontade de brigar
Eu tô manero pra bater pra revidar provocação
Olhei no espelho meu cabelo e tudo fora do
se não enche não me encosta
Tô bravo que nem leão
E não pise no meu calo que eu te entorno feito água
E te jogo pelo ralo

Hoje você deu azar
Hoje você deu azar

De que vale seu cabelo liso e as idéias enroladas
Dentro da sua cabeça”

(Ana Carolina)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

"Foi bom, mas foi ontem"



ou ainda “Recuse prazeres incompletos e meias porções”

Claro que todo mundo quer ter um amor eterno, quer se apaixonar e ser correspondido, quer ter um linda historia de amor (com altos e baixos, vilões e mocinhos, muitas lágrimas e um final feliz) e quer que os relacionamentos durem, que tudo seja pra sempre e que comedias românticas não aconteçam apenas em filme. Só que as vezes, sem perceber, nós colocamos milhões de reticências onde só tinha um ponto final deixado pela outra pessoa.
Se teu relacionamento foi bom, se você amou e era amado, se tudo era bom demais pra ser verdade... que bom pra você (e pra vocês) mas se tudo isso chegou ao fim, só uma certeza é valida: FOI BOM, MAS FOI ONTEM. Acabou, simples assim, passado é pra ser lembrado e fim de papo. Contudo temos uma mania irresponsável de pegar nossas velhas fotos, limpá-las, colocá-las ali no porta-retrato mais bonito da sala pra gente ficar observando toda hora e fingindo que tudo aquilo ainda faz parte do nosso dia-a-dia.
Não se trata de queimar as fotos, apagar as lembranças e se fingir de forte porque “é assim que tem que ser”, mas está na hora realmente de parar de aceitar pequenas porções do sentimento que antes era tão grande, está na hora de dizer não aos pequenos prazeres que antes eram tão imensos que te fazia subir pelas paredes. Se tudo que te sobrou de um relacionamento tão forte e bonito é um pouco de solidariedade à sua grande carência é porque tem alguma coisa muito errada aí.
Se você traiu a confiança daquele que você achava que realmente nutria um carinho, está arrependida e querendo fazer de todo o jeito que ele volte pra você... que tal se você se der conta que apenas não queres te sentir uma vadia por todo o acontecido e aceitar que nenhuma relação depois de tudo isso vai ser boa o suficiente pra você? Afinal de contas se você o traiu é porque as coisas já não estavam tão boas. Vais se humilhar pra ter um pouco do que resta da semana dele (como um pouquinho do domingo, depois do jogo de futebol)?
Se você realmente se considera apaixonada platonicamente por uma pessoa que diz que prefere não ter nada contigo porque não quer te magoar (isso depois de ficar cinco anos fazendo cagada e te magoando) então tudo o que ele está querendo dizer é que não quer nada contigo, mesmo que isso te magoe! E não adianta tentar dar milhões de prescrições médicas/psicológicas sobre o caso pós traumático da criatura porque sua resposta é muito simples: é você quem tem o problema de não aceitar que “foi bom, mas foi ontem”
Se o beijo do guri que você ficou final de semana passado foi a melhor coisa do mundo e por isso precisa dele pro resto da vida junto contigo, acredite: existem milhões de beijos tão bons ou melhores que este, e este guri realmente valer a pena ele estará te ligando neste exato momento (e convenhamos, você nem gostou tanto assim do cheiro do cigarro que ele tinha).
Se você se quer pensa em chorar por qualquer pessoa, antes faça uma coisa muito importante: tome um banho demorado, coloque a melhor roupa, se dedique a fazer uma maquiagem muito bem feita e se dirija pra qualquer lugar que você encontre uma grande concentração de homens bonitos por metro quadrado... ria, se divirta, fale bobagens e não leve tudo tão a serio. Acredite que no outro dia você pode até voltar a chorar pela criatura, mas você verá que o mundo tem muita gente interessante pra te fazer sorrir e sabendo disso tudo a escolha é tua.
Eu escolhi ser conquistada, escolhi exigir os meus direitos como pessoa que se ama de verdade, escolhi os prazeres completos, a porção completa (e acompanhada de fritas), e escolhi ser colocada num pedestal. Sendo assim recebi todas as porções completas, com uma linda decoração enquanto estava ocupada demais sendo amada pra não conseguir nem identificar de onde veio tudo isso, alias ninguem me cobrou pra saber, apenas pra sentir e gostar. Afinal de contas se eu não sei a duração de tudo isso então planejo falar que o dia de ontem foi bom (alias, desejo falar que foi perfeito) mas que o dia de hoje será melhor ainda, mesmo porque aprendi com o ontem e sei conquistar o amanhã.

"E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado." Tati Bernardi

terça-feira, 14 de julho de 2009

Meu medo de amar!



"Qual a melhor forma de te alegrar?
Qual o melhor jeito pra te ver feliz?
Como é que eu falo pra não ter que errar?
Como eu aprendo com o que eu nunca fiz?
Eu sei
Que os meus defeitos
São grandes demais
Que eu sempre falto
No que satisfaz
E ainda desafino no final
Eu sei
Que tudo isso tem uma razão
Pra tudo tem que haver a solução
E a minha foi achar você
Vem que eu te espero
E eu quero te dar
Todo o meu medo
Meu jeito de amar"


Ela havia preparado o jardim mais bonito que já tinha visto. Tinha o regado todos os dias e protegido de todos os males que poderiam o afetar. Então se aproximou do jardim um jovem que tocava as flores com tanto cuidado, com tanto carinho que ela admirara ele logo de cara, por ter cuidado de seu jardim, por ter prestado atenção que ele era algo raro pra ela. Mas aquele jardim era só dela, não poderia pertencer a mais ninguém, afinal fora ela que o cultivara assim tão bonito. O jovem atencioso poderia sem querer pisar em alguma pequena violeta e prejudicar todo o trabalho de meses da menina. Então sem pensar ela pegou a rosa que tinha mais espinhos e arranhou o rosto do jovem quando ele vinha lhe dar um buquê de presente. Ela não precisava de flores de outros campos, ela queria apenas as dela, tinha medo que outras, ciumentas, afetassem teu belo jardim. O jovem machucado e magoado se distanciou com lágrimas nos olhos, a menina ficou parada ali, no meio do jardim, olhando tudo, olhando ele ir embora, com rosto de defesa, com olhar de determinação. Quando ela já não mais o conseguia ver ela correu, correu o mais longe que conseguia chegar e quando não mais suportava correr ela sentou-se e chorou. Chorou por não saber, chorou por não se entender... chorou não por tristeza, mas por vergonha... vergonha de ser covarde. Logo ela que criticava tanto a covardia!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Believe in me!



“Não vim aqui dizer que não posso viver sem você. Eu posso viver sem você... mas eu não quero”

Será que você poderia, por favor, devolver minha inspiração. Ela deve estar perdida no teu carro, deve ter caído quando você ainda me deu carona, mesmo eu tendo feito tudo errado naquela noite. Ela deve estar na boca de quem te trai enquanto você observava tudo com um misto de raiva, rancor e nojo. Ela deve estar no teu rosto junto com a decepção estampada por eu ter jogado tudo fora. Ela deve estar em algum copo de algo que bebi e não lembro. Ela deve estar em qualquer lugar que esteja entre o meu remorso e o teu perdão.
E se eu dissesse que se o tempo pudesse voltar eu teria feito tudo diferente, eu teria segurado na tua mão e não teria soltado jamais, eu não teria te deixado ir, eu teria te mostrado tudo o que há de bom em mim e não os erros.
Algo adiantaria se eu dissesse que sei que agi errado e que isso não vai mais se repetir? Algo adiantaria se eu dissesse que agora eu sei o quanto quero você ao meu lado? Algo adiantaria se eu dissesse que você é realmente importante para mim? Porque é.
Não tenho o que dizer, tudo o que eu disser agora soará falso e nunca conseguirá transmitir o vazio que ficou em mim. O vazio que me restou não é simplesmente da falta que me fazes, mas da falta que eu faço a mim mesma. Acho que isso é que dói tanto. Não sabia que trair a confiança de alguém passa por trair a minha própria confiança, então “perdoa-me por me traíres”.
Perdoa-me, principalmente pela minha falta de jeito com as palavras quando eu mais preciso, mas é que minha inspiração ficou junto com tudo aquilo que perdi, ficou contigo e com a minha vontade de fazer tudo certo, de termos dado certo.

“Por onde andei?
Enquanto você me procurava
Será que eu sei?
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava...”
(Por onde andei)
Ps. Por favor, não mandem este texto pra ninguém!!! uahuhhuaahahuahua Ok, Simone?)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Eu aceito!




"Take this gift and don't ask why
Cause if you will let me
I'll take what scares you
Hold it deep inside
And if you ask me why I'm with you
And why I'll never
Leave
Love will show you everything"


Eu aceito!
Aceito ser seu travesseiro, sua psicóloga, seu problema e sua solução.
Aceito tudo porque quero tudo.
Aceito teus problemas porque são eles que me fazem sorrir mais do que a solução que outros me oferecem.
Aceito praticar toda minha psicologia com você porque sempre achei mesmo que tinha talento para tal ofício.
Aceito morar em outra cidade, outro estado, em outro país... só não me coloque numa cabana, de resto aceito tudo.
Aceito você, aceito aquilo que você aceita. Acho graça nos seus defeitos e tuas pequenas qualidades me fazem sorrir o dia inteiro.
Se é isso que chamam de amor então eu os aceito, o amor e você, da forma que vier, da forma que puder vir, da única forma que me faz feliz: vindo de ti!
Se isso é tudo que eu posso dizer, se é tudo que você quer ouvir... então eu aceito, aceito agora, aceito sem pensar, aceito com uma razão de animalidade sentimental, com um sentimento criterioriosamente racional, com uma verdade sem limite , com uma vontade que quer ser fome e comida, com um não sei oque, não sei como e nem porquê...
Eu aceito!

“Esquece a rima, esquece a prosa, você me beija e eu quero mesmo é escrever uma puta historia"

Meu cartão de ponto!


É que hoje é segunda-feira... e segunda-feira é o dia que eu começo a te amar pra sempre, mesmo quando o "pra sempre" só dura até sexta. Então te amo! Não se esqueça!

domingo, 5 de julho de 2009

Qui vas s'en occuper?



“Mais elle? Et le cafouillage de la sienne de vie... qui vas s'en occuper?” (O Fabuloso Destino de Amelie Poulan)


“E é também porque eu sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa.” (Clarice Lispector)

Sábado a noite decidi que não preciso de ninguém, pelo menos não de homem algum, sou sozinha, independente, não-carente, e feliz o suficiente para encontrar vários e não me apaixonar por nenhum, porque me basto. Daí então pego meu carro e vou em direção a festa, escutando minha musica, sozinha e completa.
É então que um imbecil bate no meu carro no meio do caminho, e pra minha surpresa foge sem sequer perguntar se estou bem, se não machuquei mesmo e se meu seguro pagaria tudo numa boa. Então estou ali no meio da rua, completamente sozinha e mais incompleta do que nunca, claro que um cara parou pra ajudar e até se ofereceu pra ir até a delegacia comigo, eu como sou muito independente disse que não precisava, que eu estava bem, afinal eu sei que não preciso nunca de ninguém. Mesmo assim ele foi, mesmo contra a minha vontade, e no final, eu de tão carente até dei um abraço apertado de agradecimento no cara e pensei “agora que to calma, vou ligar para alguém”, perdi a coragem, afinal deixa pra lá, me acostumei tanto a ser sozinha que talvez seja assim que todos me vejam, alguém que simplesmente não precisa.
Fui pra casa, chorando, injustiçada, com raiva, sozinha... completamente sozinha.
Ligo o computador e ali esta um amigo, que me acalma, brinca comigo, diz “segunda-feira eu vou com você resolver isso” e me manda uma música, linda e romântica, dizendo “esta é pra você”. Eu então faço o tipo de “eu sei o que você quer, e você não vai ter queridão” e ele sorri... ele sempre sorri e me segura quando caio, me irrita, me critica, me cobra dizendo que as vezes preciso demonstrar e fazê-lo sentir-se especial, mas está ali e isso é o que me basta pra ser mulher, pra ser incompleta, pra perceber que talvez eu realmente quero ter alguém pra ligar quando tudo der errado, que quero alguém pra pedir socorro.
Quando tudo dá errado é que eu percebo que talvez eu precise... que talvez eu queira!



“Nasci com um troço aqui que ninguém entenderia mesmo e que algumas músicas e filmes e livros e crianças e bichos e cores e madrugadas e bem cedinhos, às vezes, me trazem a tona pra mim e vivo num misto de egoísmo solitário pra caramba. Uma coisa que cabe o mundo todo mas que não preenche justamente por isso. E tudo bem. Estou sempre entre o conformismo em sentir tudo isso sozinha cada dia com menos impaciência e dor e a espera gigantesca cada dia maior. Mas aí algumas pessoas aparecem e me tiram daqui e me dizem e me provam que sentem tudo isso também e que é possível que eu saia da toca aceita e quentinha” (Tati Bernardi).

ps . E assim acaba meu sábado, sem inspiração alguma pra escrever sequer um bom texto, mas cheia de frases bonitas que outras pessoas escreveram e que poderia facilmente explicar o que sinto, caso eu fosse REALMENTE esta pessoa independente e completa!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

As mentiras que ELES contam e ELAS acreditam!


Ou ainda "Por acaso também tenho cara de panaca???"




O guri bonitinho realmente viajou 80 km com uma chuva torrencial e quase morreu apenas para assistir a minha estréia, contudo, os próximos 20 km eram os mais difíceis, então ele teve que voltar os 80 km andados e lamentar muito a ausência, lamentou até demais pro meu gosto, pediu desculpas exageradamente, e cada vez que um pedido de desculpas era feito eu pensava: “aposto que esta pessoa não levantou a bunda da cama”.
O outro matou o trabalho e foi lá me desejar boa sorte, prometendo que iria assistir-me no ultimo dia da estréia, mas uma dor de sei la o que o prejudicou, o coitado mal conseguia sair da cama de tanto que a doença o havia acometido. Quase morri de tanta pena. Judiação!
Um outro me ligou desesperado, morrendo de vontade de me ver, uma vontade súbita de sair pra conversar comigo e aproveitarmos a bela noite que estava fazendo, ele se sentiu um pouco incomodado quando lhe perguntei por que ele não ligava pra namorada dele que agora estava morando a uns 500 km dali. Talvez ele achasse que eu havia me esquecido deste detalhe.
Tem também o mais desejado por todo mundo, o menino bonito que se não tivesse namorada todas gostariam de ter no pé. Mas que ultimamente ele anda esquecendo que tem namorada e anda super querendo me conquistar. Qual será a desculpa que ele também da pra ela hein? Será que a desculpa é algo como “vou ali buscar um copo de coca para você e volto daqui duas horas”??? Ou será algo como “minha vó ficou doente e tive que ir cuidar dela”, ou ainda “eu estava muito ocupado para falar com você naquele momento, mas fiquei o dia inteiro pensando em você”, ou a pior “a gente não tinha combinado nada, tínhamos?”
Eu realmente não sei se são os homens que me decepcionam mais com estas desculpas idiotas ou são as mulheres que fazem questão de cair em todas estas mentiras e ostentarem seus belos pares de chifres. Estão lá tão satisfeitas de terem aquele ser ao lado delas para que possam dizer “eu não sou sozinha”, que não conseguem perceber que realmente não são sozinhas, principalmente no quesito “predileção dos namorados”, ja que se dividem entre tantas outras.
Depois de um final de semana de encontros, desencontros, desprazeres e prazeres, tudo que posso dizer é: esta cada vez mais difícil de acreditar no amor.

Não te acanhes de ter chifres na testa que isso, antes de nasceres, era festa.
Teu avô os usou, teu pai os carregou
Eia! Os chifres alegres e invencíveis de desprezar não são, nem são risíveis.”

domingo, 14 de junho de 2009

Pela necessidade de usar-te!



Em nome de tantos anos de total companheirismo e dedicação, eu só te peço um favor, uma ajuda: me deixa te usar???
Eu realmente preciso te usar, e já uso em varias situações, em vários momentos, mas preciso que você saiba desta necessidade de utilização de tal produto. Preciso que você saiba para que possa colaborar de forma mais produtiva com sua cliente. Posso te usar em vários momentos sem teu consentimento mas as vezes preciso realmente que você saiba disso e faça uma forcinha para facilitar a utilização.
Quando vejo algo muito bonito eu tenho que falar de algo para comparar, daí então tenho que usar sua imagem (mesmo se for para causar oposição, as vezes acontece) nem se for para falar que seu nariz era muito maior, que tinhas menos pêlos, que teu abraço demorava mais... tenho que falar das mãos, do perfume, da boca carnuda, então eu mostro fotos, ainda que tenha que roubá-las para fingir que fui eu quem as tirei. Quando vejo algo feio então eu tenho que falar que tudo que era feio em ti eu ignorava, porque era apaixonada e cega, e lamento por isso, lamento com um sorriso no rosto.
Quando escuto uma música e alguém diz que se lembra de outra pessoa, então é o momento de eu começar a citar várias que me recordo de você, algumas que você nem sabe, afinal não é importante ser NOSSA musica ou não, o importante é que eu lembre e goste.
Quando algum relacionamento dá errado eu o comparo a você, comparo os sinais para demonstrar que eu sabia desde o começo que seria errado, já que era tão parecido contigo. E quando está tudo certo eu lembro automaticamente de você, por saber que um dia vai dar errado com esta pessoa, já que já tive o meu certo, já que não quero outro. Aliás, sempre ao se falar de um relacionamento eu encho a boca e conto que também já tive desilusões amorosas e então conto nossa historia toda, é como se eu o usasse para me enturmar com gente que realmente teve relacionamentos de verdade, então eu enfeito nossa história e conto de um jeito que qualquer pessoa acredita que realmente aconteceu.
Eu te uso pra ser meio maluca, pra falar sozinha, pra sorrir pra ninguém, pra sentir algo que nem existe, te uso como se você fosse um alguém imaginário que só existe nos meus sonhos (o que não é tão mentira assim, porque você da maneira que eu pinto só existe realmente nos meus sonhos). Eu te uso pra ser exageradamente platônica e mexicana, de uma maneira que até eu mesma me envergonho quando percebo.
E eu te conto tudo isso e te peço ajuda porque sei que você sabe que sou mesmo um pouco maluca, e é o único que vai saber disso, porque pros outros eu finjo ser um pouco normal e você sabe como costumo ser boa atriz quando quero, então eu interpreto e todo mundo caí, mas você não, você já sabe de toda a minha mania de inventar historias, então pra você eu posso ser sincera.
Agora de verdade, será que seria pedir demais que as vezes você fingisse que realmente isso aconteceu? A gente podia fingir que é um casal, pode até mesmo ser um casal terminado, e daí você teria o que conversar comigo, e brigaria, xingaria, depois faria as pazes e diria que respeita todo o nosso passado. Seria engraçado porque daí eu não me sentiria tão patética quando grito seu nome e fico ali parada sem ter o que dizer. Sabe teatrinho bobo? acho até mesmo que você se divertiria com a situação.
Assim eu voltaria a ser mais mulherzinha pelo menos por alguns instantes do dia, podia dizer pra todo mundo que esta coisa de amor existe e que eu já sofri por amor e já fiz sofrer também, assim eu poderia tirar por alguns segundos esta pose de “já sei onde isso vai dar” e seria sincero, seria bonito. Mas pra isso eu preciso que você saiba do teatro, preciso que você queira interpretar, só por alguns momentos, só pra me fazer sentir o que sou de verdade, depois tudo volta ao normal, a gente segue nossa vida achando que realmente aquilo foi algo e você teria feito a sua boa ação do dia.
Afinal quando todas as minhas inspirações vão embora, tudo o que me sobra é você, então eu sento e escrevo. Escrevo pra vomitar tudo isso que fica batucando em meu coração (tudo nosso soa como um tango mal tocado). Só assim eu consigo acordar no outro dia limpa das suas lembranças, como uma página em branco. Contudo, minha ansiedade em pintar um novo quadro e o meu medo de pendurar algo que não goste na parede me leva a usar novamente as mesmas cores, novamente você.

“Esse é só um dos absurdos que passam pela minha cabeça quando me salta você no peito.” Tati Bernardi

sábado, 13 de junho de 2009

Cansei!

(Ou ainda "Troca-se um coração por um fígado")


“Não é apenas uma questão de precisar de mais, de querer mais. É que, sobretudo, eu mereço mais. " (Fernanda Pinho)

E foi então que eu cansei.
Não adianta, por mais que eu realmente seja uma pessoa boa, por mais que seja dedicada, bonita e admirável e caralho à quatro... nada de bom realmente vai surgir na minha frente no quesito homem, simplesmente porque não existe nada de bom neste quesito.
Sempre as mesmas desculpas (“e desculpas nem sempre são sinceras”), a mesma infantilidade, o mesmo desapego. Se estamos na sociedade do desapego, do não se importar com o sentimento alheio, de não sentir... então, se querem saber, eu não pertenço a esta sociedade, porque eu tenho coração de manteiga, eu realmente me importo, eu me apego, eu quero o bem e eu sou uma pessoa boa em todas as situações. Mas o mundo não é assim, as pessoas não são assim, então fodam-se todos.
Desculpem pelo texto não poético, mas realmente a poesia parece que morreu junto com o ultimo cara que se atirou pela janela por perceber o quão idiota era (ou pelo menos ficou isso nos meus melhores sonhos e é assim que prefiro acreditar: “poxa, ele morreu? Foda né?” ).
A partir deste momento declaro-me alguém como todas as outras pessoas. Declaro-me completamente imbecil, sem coração, dignidade ou sentimentos. Toda esta coisa de amor eterno entre homem e mulher só foi inventado pra vender presente no dia dos namorados, o qual felizmente já passou, então é hora de enxergar a realidade.
É hora de ver que não vai existir um par perfeito pra mim, que homem nunca é fiel (pior é quem acredita e é corna mansa), que mulher nunca é fiel (o que vale pra um vale pro outro), que as pessoas são extremamente egoístas e só amam aos outros para dizer que alguém o ama, e que tudo...tudo é vaidade e auto-estima.
Então amanha colocarei minha roupa mais bonita, meu melhor dos sorrisos e vou distribuir a qualquer idiota que ainda acredite que esta coisa toda de amor existe. Farei isso conscientemente como quem diz “agora pague pelo que me fizeram”, e sinto muito aos que entrarem na minha frente, afinal, esta coisa de “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” foi provavelmente escrito numa hora em que o tal do Exupéry desacreditara totalmente do amor e decidiu pregar algo para enganar a todos. Bom trabalho inventor do tal príncipe, seguirei teu legado!

“Eu tive que mudar, foi preciso”

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Sobre o frio (todos eles)!



“Não sei se quero descansar,por estar realmente cansada ou se quero descansar para desistir” (C.L)

Está inverno lá fora, e eu aqui dentro não sei julgar se o frio esta mais forte lá fora ou aqui dentro de mim. Afinal, à minha volta, os muros voltaram a crescer, eles me defendem dos desastres do coração, mas deixam o mesmo cada vez mais frio. Não me importo, cansei mesmo de sentir.
Eu havia até quebrado uns tijolinhos para poder ver passar do outro lado da rua um moço que me parecia interessante. Mas este moço nunca sabe a hora de passar, as vezes se aproxima e me sufoca, em outras some e tudo que deixa é vazio e expectativa.
A expectativa aos poucos vai se transformando em preguiça, preguiça por esperar que adivinhem meus pensamentos, que cheguem na hora marcada, e que correspondam aos sentimentos. Bem, nem todo mundo pensa igual, ou tem a mesma habilidade para sentir sem reservas. Então tento o copiar...
Só que é inverno, é tempo de ficar junto, não me bastam mais as baladas que não me preenchem em nada e male má me esquentam. Eu só precisava de um abraço forte que me esquentasse e de um olhar de cumplicidade, o tal do moço parece ter isso para ofertar, mas não, é apenas aparência. Aparentar estar disposto é o segredo pra manter contato com corações carentes e altruístas.
E meu coração agora quer ser frio, igual ao tempo. Ele resolveu se fechar novamente, em definitivo. (Quem sabe através destas várias tentativas uma hora ele realmente canse de sentir e tudo que escrevo deixe de ser apenas um argumento e passe a ser uma realidade. Quem dera.)
O moço vai ter que esperar por outro coração aberto para que possa jogar tua meia dúzia de palavras bonitas. Acredito mesmo que vários corações se convenceriam, ou então fingiriam ser convencidos porque é o conveniente do inverno. Mas meu coração sempre bate com palpitações sinceras, não sabe mentir e não consegue enganar esta razão que ultimamente parece ter atingido a maioridade.
Então eu procuro meu cobertor que estava bem guardado na parte mais alta do meu guarda-roupa, afinal é inverno e de alguma forma preciso me esquentar.

"Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... é preciso ritos! "( O pequeno príncipe)

domingo, 7 de junho de 2009

E eu que nem queria me envolver...


“Somos amigos e isso é um bom motivo prá gente ficar junto” (“Dizer não é dizer sim” – Kid Abelha)

Tem coisas que a gente resolve e não abrimos mão de nossas resoluções, não importa o que aconteça. E eu havia resolvido não me envolver com ninguém, não acreditar no amor, não procurar nada e nem ninguém. Mas o problema é que não procurei, você me surgiu e meio que se instalou em minhas dependências sem nem pedir licença, nem ligou quando eu disse que não acreditava mais e apareceu em minha frente provando que eu podia acreditar e eu que nem queria me envolver...
Envolver-me não fazia parte do plano, mas você errou o caminho pra chegar em casa e me ligou umas cinco vezes perguntando como fazia e eu achei uma graça que mesmo você dando voltas e mais voltas na mesma praça você ainda conseguia manter o bom humor, e chegou expulsou qualquer pessoa do carro pra me colocar bem ao seu lado no posto de primeira dama do banco da frente, sorriu e disse que eu estava linda, mantive minha fama de má e disse que você nem sabe seguir orientações básicas de endereço. Em qualquer situação o silêncio me faria entrar em pânico, mas eu te conheço, você me conhece e isso é tão fácil.
Você me deixou andar na frente, mas amarrou uma cordinha pra saber onde eu estava indo, acompanhava meus passos enquanto me deixava ir e quando eu nem esperava me puxava pra perto me mostrando onde exatamente é o meu lugar. Foi quando eu vi que você se preocupava, então eu fiquei segura, não precisava sair dali.
Tudo ali parecia que era pra me mostrar o quanto tudo pode dar certo, e tudo parecia natural. Teu amigo que havia acabado de conhecer ria das minhas gozações com ele como se fosse meu vizinho, a namorada dele então já estava programando nossas saídas pro próximo mês e você... bem pra você eu era a sua futura esposa, não tinha com que se preocupar e nem nada pra programar, já havias decidido, e eu aceitei! Mesmo sem querer me envolver, eu aceitei.
Você sabe que sempre quando eu sair andando sozinha você terá que me pegar pela mão firme, que quando eu não souber como reagir a um elogio eu vou falar qualquer coisa que venha à minha cabeça (mesmo que for uma ofensa), você sabe que eu sou sempre o centro das atenções e que podes chamar minha atenção por isso que eu vou entender, você sabe que eu adoro uma briga porque fazer as pazes é muito mais divertido – então você compra minha briga e fica sorrindo esperando eu voltar -, e você sorri o tempo todo, brinca o tempo todo, e fica ali programando nossa vida inteira: quando casar, quando ter filhos, quantos filhos ter... e eu sorrio enquanto mantenho a postura dizendo “sonha querido”.
Então é aí que você me leva embora pra casa, me cobra beijos de despedida e um ultimo tchau depois de eu fechar o portão, afinal você está ali com o carro parado, vidro abaixado e um sorriso no rosto. E eu que nem queria me envolver... fico pensando se você vai me ligar no outro dia.
E durante a semana meu telefone toca, as mensagens aparecem em meu celular, e meu computador fica muito mais interessante quando você está ali, afinal a gente fala de tudo: do dia, dos planos, de nós, das nossas lembranças, de nosso futuro e você quer me ver mais, muitas vezes e freqüentemente. Eu digo que não quero me envolver enquanto você diz que então devemos nos ver o mais breve possível, eu sorrio e concordo, afinal eu que nem queria me envolver...

“I've been awake for a while now
You've got me feeling like a child now
'Cause every time I see your bubbly face
I get the tingles in a silly place
(Bubbly – Colbie)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Maio!


Desistir do amor foi o caminho mais simples e menos dolorido, então foi o que ela fez. Decidiu de que daquele momento em diante não se deixaria mais enganar, não se envolveria, não se machucaria.
Tudo dava certo! Ao contrário do que ela esperava, quanto mais ela colocava uma plaquinha de “não pise na grama” no seu jardim, mais borboletas se aproximavam do mesmo. Talvez a vontade da menina de não amar a transformará em alguém enigmática e misteriosa, o suficiente para gerar interesse nos que por ali passavam.
E ela pregava seus conselhos a quem quisesse escutar, contava sua história e convencia a qualquer um que “amor” foi só algo inventado pelos comerciantes para vender presente no dia dos namorados.
Como terminava maio, ela começara a pensar em dia dos namorados e aquilo era o mote para qualquer assunto, mas não se lamentava por não ter companhia para a data, pelo contrario, falava com a boca cheia de que enquanto as namoradeiras tinham 1 dia, ela tinha 364. Eram dias o suficiente para ela encontrar várias companhias diferentes, uma boa festa e algo qualquer para que não lembrasse de nada no outro dia. Estava feliz!
Mas mesmo assim, quando ninguém estava olhando, ela puxava uma caixinha com suas lembranças e olhava alguma foto do casal, ao mesmo tempo em que cantarolava alguma música que a fazia transportar à outro mundo. Quando ninguém olhava, ela chamava-o como que sem querer, fingindo que foi apenas um engano. Quando ninguém olhava, ela se lamentava por tudo ter passado e por nada ter passado... Quando ninguém olhava, ela pensava em como poderia ter sido o que não foi!

"Maio
já está no final
O que somos nós afinal
se já não nos vemos mais
Estamos longe demais
longe demais
Maio
já está no final
É hora de se mover
prá viver mil vezes mais
Esqueça os meses
esqueça os seus finais
esqueça os finais
Eu preciso de alguém
sem o qual eu passe mal
sem o qual eu não seja ninguém
eu preciso de alguém"
(Maio - Kid Abelha)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Et l'amour j'laisse tomber !"


Eu menti!
Não me julguem, afinal, às vezes a gente mente sem nem saber que esta mentindo, mas isso não me tira a culpa: eu menti! Se querem saber mesmo a verdade, eu digo: eu não acredito no amor. Pronto, simples assim. Não acredito, não mais.
Cansei de ser a panaca que corre atrás do amor eterno que nunca acabou e já faz sei lá quantos anos isso, nem sei mais fazer a conta, afinal eu nunca nem pensei a respeito, só fechava os olhos e seguia meu instinto idiota. E pra suprir a falta deste “amor incansável” eu quis me apaixonar por todos os homens que me dessem qualquer beijo idiota na testa, já me contentava, já me bastava... Bastava ao ponto de eu me preocupar, ir atrás, fazer carinho, dar atenção, me justificar, querer estar perto... Inferno de carência!
A verdade é que todos estes casos tortos só me serviram para ficar com um tremendo vazio de quem não tem ninguém, e eu queria, queria mesmo me apaixonar e ser completamente fiel, completamente inteira a quem quer que fosse, bastava me querer. Que absurdo.
E pra quem lê em meus textos uma resposta às inquietações do amor, então tenho outra revelação: do amor eu não entendo nada! São só palavras, acreditem, palavras vagas, nulas e completamente sem sentido ou razão.
A grande verdade é que a maioria dos casais que conheço ou traem ou serão traídos. Os casamentos são infernais - cheios de brigas e discussões - ou acabam na simplicidade do divórcio, gerando um pouco mais de briga e filhos mal criados (que terão traumas posteriormente, não acreditarão no amor e farão meninas românticas como eu não os entender). Os flertes são cheios de egoísmo e vaidade: se você vai ao encontro da pessoa, se liga, se dá carinho e atenção então eis alguém que gosta de ficar com você. Claro, se entre todas estas coisas não tiver nenhum pingo de cobrança ou necessidade.
Não vou cuspir pra cima como todos os solteirões inveterados dizendo “eu não largo minha vida de solteira por nada” pelo contrário, largaria muito fácil se o amor existisse, mas não largo se isso que chamam de amor for apenas o que me oferecem, não por esta necessidade de ter alguém apenas, não pra sustentar o ego de alguém ou servir de troféuzinho. O amor deveria ser mais do que isso, e como uma boa romântica eu digo que se ele não é, então eu não quero, não acredito e não entendo.
E por ser romântica eu desisto do amor. Definitivamente não nasci pra este sentimento, nasci pra ser competente, pra ser inteligente, pra ser boa mãe, boa amiga, boa filha, mas quanto ao amor... eu não sei!
Então eis que o plano de sentir ficou meio em suspenso, creio eu. Pelo menos nos moldes que eu o havia planejado. Esta coisa de colocar as asas e ir voando em direção ao seu amor, mesmo sem saber voar, é muito bonito nas historias do Rubem Alves, mas na vida real só gera um grande tombo deixando-me mancando por uma semana. Acho que prefiro a velha história de colocar um muro bem grande na frente do meu castelo e quem quiser que escale. E esta é a metáfora que traduz minha atual fase de romântica desacreditada no amor: um muro em frente ao castelo.
Antes que algo pareça estar subentendido, não estarei do lado dentro do castelo cuidando do meu jardim para a chegada das borboletas, tudo isto é muito parado. Vou estar é bebendo minha vontade de viver transformada em um pouco de whiskie, vou aproveitar as festas de todos os castelos da redondeza e fazer bem só a quem me é muito importante. Caso algum aventureiro queira realmente escalar este imenso muro, apenas desejo-lhes coragem e sorte, porque já aviso que não terá ninguém para fazer curativo se sofrer algum tombo, estarei ocupada sendo feliz.
E enquanto o me sentir amada por mim mesma for muito mais interessante do que o amor que me dedicam, a resposta será sempre a mesma: "L'amour pas pour moi” seguida de um beijo na testa do corajoso desprovido de sedução. C’est la vie!
*
*
"Pourquoi faire ce tas de plaisirs, de frissons, de caresses, de pauvres promesses ?
A quoi bon se laisser reprendre
Le coeur en chamade,
Ne rien y comprendre,
C'est une embuscade,

L'amour ça ne va pas,
C'est pas du Yves Saint Laurent,
Ca ne tombe pas parfaitement,
Si je ne trouve pas mon style ce n'est pas faute d'essayer,
Et l'amour j'laisse tomber !"
(Carla Bruni)