terça-feira, 8 de setembro de 2009

"Mariana foi pro mar"


No primeiro dia, durante o tempo inteiro, ela dirigia na estrada olhando pelo retrovisor, escutava a música que a fazia lembrar o que deixava para trás. Sabia sim que tudo fazia parte do passado, mas olhava-o com ar de nostalgia melancólica, porque acreditava que nostalgia só podia ser assim. Ela estava enganada.
Tudo que ela deixava para trás na verdade era nada, porque sentimento não se pode tocar e tudo que é físico, na verdade, não pertence a ninguém, tudo é passageiro. Como ela não queria sentir então abandonava cada pedaço do que sentia pelo longo caminho que o carro fazia.
No segundo dia ela andou pela praia. Sentiu-se acolhida pelo mar, abandonado por causa da ressaca. O mar, quando fica de ressaca, devolve à terra tudo que lhe fizeram de mal, devolve a sujeira, devolve o feio, devolve para então se ressurgir.
Logo que ela tocou seus pés no mar, eles se entenderam, mulher e mar , ambos se encontravam numa mesma energia – o vazio, a calma, o vento, a força. Sem pensar então ela firmou e fincou seus pés na areia úmida e grossa, lembrou-se do querer ressurgir da terra, mas descobriu-se ali ser feita de fogo, é o fogo que precisa da água pra mostrar-lhe o tempo de parar. Ela ficou por ali muito tempo. Ela entendeu.
No terceiro dia ela sabia as respostas. Percebera que na história de seu primeiro livro, quando criança, ela se confundira sobre qual era seu personagem e ficou enganada por todo o tempo seguinte: ela não era o menino que fica na estação a espera do seu primeiro amor – que apenas viu passar no trem – ela era a menina que passava, era aquela que estaria no trem indo pra lugares que ninguém sabe, era quem deixa saudades, era o que sempre deveria ser: a verdadeira protagonista da história (porque histórias de criança não deveriam ser feitas pra fazer chorar, deveria ensinar como sorrir, mesmo quando o assunto é amor, ou então, principalmente neste assunto). Ela aprendeu.
Ela era feita de fogo, que se alastra e que invade. Ela sabia que o mar sempre existiria para fazê-la parar, mas o mar, livre da ressaca, lavou-a com água limpa dizendo que ressaca deve vir apenas no segundo dia, não mais que isso. Então ela aceitou e seguiu viagem. Seguiu com a certeza de que apenas o mundo lhe seria suficiente para preenchê-la, que precisava de algo mais, de muito mais. Seguiu mirando seu olhar pra direção correta: pra onde era levada, pra onde se levava.

Um comentário:

  1. que delícia essa sensação de "a tempestade passou".. que paz, que harmonia.. dá até para ouvir os pássaros cantando e as mulheres dançando..
    rezo sempre por ti! é bom saber que o mar te limpou a alma.. ele é ótimo ! hehe

    te amo!

    ResponderExcluir