quinta-feira, 9 de abril de 2009

Pq o amor nos deixa altruista, burra e tão feliz!


“Agora é um instante. Você sente... eu sinto. Já é outro. E nada existe de mais difícil do que entregar-se ao instante” Clarice Lispector

Então ela se despiu das asas, das roupas, das mentiras e de todos os conceitos de amor que já recebera.
Estava cansada de frases bem feitas escritas nos caderninhos das crianças e das teorias sobre aquilo que ninguém sabia explicar. Se o amor é tão difícil de ser compreendido, como podia alguém ser tão presunçoso a ponto de querer saber explicá-lo, pensava que quando se consegue explicar o que é amar então já deixara de sentir amor. E como ela não sabia explicar, então já tinha um bom motivo para acreditar que o que sentia era realmente amor.
Não queria levar nada teu, nada das tuas posses era realmente necessárias naquele momento. Precisava apenas do teu coração pra bater forte, dos teus braços para abraçar forte aquele que havia deixado tanta saudade, do teu ouvido para escutar as palavras e tentar decifrar, e da tua boca para – entre outras coisas – poder falar frases que poderiam tudo mudar.
Desistira de não sentir, de mentir, de deixar pro tempo resolver. Queria tudo, queria ele, queria logo. Seu amor era como fome, uma fome ensandecida e ao mesmo tempo suave. Fome de quem escolhe a refeição apreciando as cores e os sabores.
Pela primeira vez havia se visto pequena perto da imensidão daquele que a esperava. Tudo o que tinha em si era admiração e orgulho por ele. Ao lembrar-se de teu homem, conseguia sentir o abraço forte de quem sabe proteger, o olhar medroso de quem ser amado mas tem medo de pedir, os lábios carnudos que esperam uma mordida, o estilo de menino-homem (de confuso-responsável, de bandido-mocinho, de quem quer-e quer...),o andar, o sotaque, o corpo, a língua, o suor.
Não sabia se era o certo, se era o necessário, mas não se perguntava, o saber era coisa de gente que não sabe sentir, e ela sabia sentir. Sentia que nos braços dele era o único lugar que ela gostaria de estar. Estava pronta para não exigir, para não cobrar (afinal amor não se pede)... Ela acordara altruísta, justo ela que fora durante toda a vida a pessoa mais egoísta que conhecia.
De repente ela conheceu o amor, viu que o sentia e que ela mesma não era nada daquilo que pensava ser durante a vida inteira. Nem mais egoísta conseguia ser, nem triste, nem burra, nem confusa, enfim, nem ela mesma!
Então foi, vestida de outra pessoa que ela não sabia quem era, mas que gostava de ser. Foi em direção a sua janela, desta vez não iria esperar, ia pular a janela e sair correndo pela rua, ia em direção a casa do seu homem, ia nua, vestida apenas de sorrisos, beleza, doçura, vontade e de fome de amar.

"É quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo. " Clarice Lispector

2 comentários: