sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sobre o amar sozinha!


“É assim então o teu segredo. Teu segredo é tão parecido contigo que nada me revela além do que já sei. E sei tão pouco como se o teu enigma fosse eu. Assim como tu és o meu.” Clarice Lispector

És um mistério para mim, da mesma forma em que sou um mistério a mim mesma, e, no entanto, tenho tanta vontade de te observar. Não observar para entender e nem tão pouco para descrever, já tive isso, mas vi o quanto era impossível, então minha necessidade é de observar calada, aos poucos e sozinha.
Quando a gente vê uma grande paisagem acompanhada, corremos o risco das observações de quem nos acompanha atrapalhar a nossa própria visão, no nosso próprio modo de vê-la. Assim é com você, cada vez que procuro compartilhar das minhas visões sobre ti com outros é como se eles me falassem de um outro ser, alguém que talvez você também o seja, mas que não é como eu te observo, ou como gosto de observar.
Então no pleno escuro da noite, ou em meio a luz do sol que bate secreta pela cortina, ambos no silencio do meu quarto, eu procuro sozinha você, te encontro em meus pensamentos, em alguma imagem, ou ainda em qualquer escrito meu sobre ti, e ali te encontro, prestes a ser observado, então pego minha lupa e meu microscópio e começo a despí-lo, pouco a pouco, contemplando cada parte em ti que amo e odeio.
Engraçado como tudo em que você odeio torna-se um odiar de riso sapeca, como se eu mesma olhasse para mim e visse em ti meus defeitos, e como perdôo-lhes em mim, sinto uma alegria confortável em poder-lhes perdoar em ti também.
E ali, sentada em meio a meus pensamentos, sozinha, sem interferência, e com uma sensibilidade que me foge dos olhos e me faz sorrir o coração, eu penso que talvez te ame da forma mais inocente que alguém pode amar, porque o amor também pode ser sentido no solitário, no intimo e no secreto.
Logo eu que já estava convencida que para amar se precisa de dois, me vejo amando completamente sozinha.

“Por enquanto estou inventando a sua presença...” Clarice Lispector

2 comentários:

  1. "Quando a gente vê uma grande paisagem acompanhada, corremos o risco das observações de quem nos acompanha atrapalhar a nossa própria visão, no nosso próprio modo de vê-la. "
    Tá bom, tá bom, eu já entendi, sem leitura de quadros pra nós é isso?

    Acho que agora entendes um pouquinho como me sinto com o rapaz emoldurado lá...
    A diferença é que tu o conheces bem, e eu só sei o nome do sujeito...

    ARFT!

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  2. Que lindo!
    É.. as vezes agente acaba por se conformar em amar sozinha e até tenta amar por dois, mas nós duas já vimos que não dá.. uma hora o unico lado da corda estoura..
    Se esse amor de observar não fizer mal, não fizer com que sua vida não ande e com que você apenas exista e não viva, não vejo problema em guardá-lo em algum canto escondido ai.. e olhá-lo de vez em quando.. tem pessoas que realmente não há força no mundo que nos faça esquecer..

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