domingo, 8 de março de 2009

Então tá!


"Se acha que ainda não houve tempo suficiente para ele notá-la, pegue o tempo que você levou para notar esse homem e divida por dois." (Greg Behrendt)


Já tem alguns dias que abro minha janela e encontro flores na varanda. Aquelas flores não pertencem ao meu jardim e nem a varanda, vieram trazidas por alguém, por um moço. Todos os dias quando as vejo, recolho e coloco na água para que durem pelo menos até o próximo dia, com a certeza de que outras virão.
Este moço me entrega as flores e escreve no cartão se eu aceito um passeio ao teu lado. Eu, como boa menina, sempre sorria ao pegar as flores, mas continuava guardando o cartãozinho e colocando a flor na água, quanto ao convite eu pensava “talvez amanhã”.
O amanha veio ontem. O moço veio me buscar com um sorriso no rosto e uma carruagem. Este moço me levou pra passear por vários lugares bonitos, fez questão de me apresentar a todos que encontrava, estava feliz ao meu lado. Eu que sou apenas uma menina sorria por achar que ele me confundira com alguma princesa.
Eu não o conhecia e, no entanto, parecia que o conhecia tanto ao ponto de não querer impressionar. Quando conhecemos alguém nossa necessidade por ser aprovado parece que nos transforma em qualquer coisa ao invés de nós mesmos.
Entre todos os parques de diversões que já fui, sempre me levaram para passear na montanha russa, pra sentir a emoção que é estar vivo, que é ter alguém do teu lado. Este moço, contudo, me levou para passear no carrossel. No carrossel não tinham fortes emoções, que eu gosto tanto, não tinha o virar tudo de ponta cabeça, e nem a sensação de descontrole. O carrossel era leve, silencioso e previsível. Eu nunca tinha antes andado de carrossel, então não sei dizer se é bom ou não, sei dizer que é diferente e que é carrossel. Quando algo consegue surpreender-te perante ao costumeiro, a primeira sensação é de um vazio, vazio de não saber explicar, de não saber entender.
O carrossel devia ser bem bom de brincadeira, porque o moço parecia estar feliz, então fiquei feliz também. Depois ele me trouxe de volta para casa. No caminho fiquei pensando com sorriso no rosto: então ta!. E foi isso que eu disse pra ele na hora de agradecer ao doce passeio “então ta”. Creio que ele não entendeu muito aquele gesto, mas eu sei que sentimentos são que nem as estações do ano: há o tempo de plantar, de colher, de saborear... e durante os intervalos é como se a terra fosse se acostumando com a nova estação, assim como o sentimento que tem que ter tempo para avaliar tudo e partir para uma nova estação, e neste período de tempo tudo que conseguimos falar sobre o tal sentimento, para tentar ser sincero sempre, é “então ta”, mesmo que para não decepcionar, para não NOS decepcionar. Quando o assunto é sentimento alheio temos q ser responsáveis.
Apesar de parecer não entender a minha resposta o moço pareceu ficar contente de ouvi-la, ele deve ter percebido que quando nós não falamos muito é porque estamos esperando pensar antes de falar, e ele parecia gostar da idéia, tanto que fez o mesmo.
Entrei em casa com aquela sensação de ter passado o dia inteiro brincando no carrossel, sabes como é esta sensação? Pois é, eu também não sei, senão eu usaria uma expressão melhor para descrevê-la. Mas quem disse que temos que ter respostas pra tudo?, às vezes a resposta esta no simples ato de perguntar, às vezes não... Tudo depende de quanto espaço há no teu coração.
Porém, antes de dormir, fui abrir a janela para ver a lua, e ali estava uma linda rosa com um cartão no qual o moço dizia o quanto espera pelo próximo passeio de carrossel. E ali, me vendo como uma menina que esta cansada de fortes emoções,pensava que talvez a montanha russa, apesar de ser a brincadeira mais atraente do parquinho, já tinha me enjoado, que o carrossel ainda era uma sensação que eu não sabia descrever, então deveria realmente brincar mais nele, mesmo que para ver se ele não se tornava minha brincadeira predileta.
E se não virar minha brincadeira predileta, não tem problema porque agora eu aprendi que o parque de diversões é muito grande para lastimarmos o tamanho da fila de um brinquedo só. E o moço... o moço me fazia bem, e eu gosto de estar bem!

Um comentário:

  1. Ela olhou-se no espelho. Olhos de um profundo verde.
    Viu que quase toda a cor do espaço em volta dela concentrava-se nos seus olhos.
    Sorriu. Não por melindre, mas por poder colorir com os olhos o resto da sala branca.
    Como quando competimos com nós mesmos segurou a respiração, hoje, mais um dia, ela veria as flores na janela. Mas deteve-se ao saborear o momento preciso da angústia e do nervosismo, estava certa de que encontraria flores coloridas, e seus olhos deixariam de ser a única cor da casa.
    Como criança que era porém, numa gargalhada, permitiu-se correr até a janela, e abri-la de uma só vez.
    Qual não foi o seu espanto ao ver que nada havia ali, nem sinal de suas flores, só da manhã clara que acabara de surgir.
    Ela não entendeu e permitiu-se sentir um pouco de frustração. Frustração essa que de um pouco tornou-se muito e a irritou profundamente, jogou-se pesadamente sobre a cama e suspirou com um muxoxo. Mais uma vez a levaram num passeio ao desconhecido, e o carrossel ganhou uma curva inesperada. Não sabia exatamente se era bom, mas com toda a certeza estava feliz com como tudo se desenrolara até ali.
    Caminhou em círculos frente á cama iluminada de sol, os olhos verdes brilhando mais do que nunca, em total confusão. O que raios acontecera?
    Pensou em motivos que pudessem impedir o moço de entregar-lhe as flores corriqueiras, e passou por sua cabeça num lampejo, que apenas receber os cartões e colocar água para as flores, talvez tivesse cansado o rapaz e ele finalmente tivesse ido embora.
    A idéia terrível do fim desse cortejar silencioso a fez saltar no lugar. Teria que procurá-lo, teria que dizer á ele que seu silêncio não era desprezo, e que muito pelo contrário, as flores a agradavam cada dia mais, como uma nova rotina, mas uma rotina agradável, assim como olhar pro céu limpo, ou admirar a lua.
    Ela correu até a porta e num solavanco puxou com força a maçaneta, decidira procurar o moço onde quer que ele estivesse, na verdade nunca se preocupara muito com isso, pois sabia, ou pensava saber, que as flores estariam lá, dia após dia.
    Em seu desespero mal percebeu um pacote disforme aos pés da porta e sem querer tropeçou nele, que gritou de dor.
    Sim, o pacote havia gritado, e aquela manhã parecia cada minuto mais estranha, a menina se abaixou a fim de ver no que exatamente tinha tropeçado.
    Outros olhos a espreitaram, olhos vivos, mas de tamanho dobrado pelo sono mal dormido nas portas da casa dela.
    Ele decidira. Ia se declarar, para isso precisava mudar sua rotina. Muito pensou, não sabia exatamente como faria e por fim, sem nenhuma idéia brilhante na cabeça, decidiu-se por esperá-la sair, em algum momento. Com uma margarida um pouco maltratada pela noite entre os dedos do rapaz ele observou-a com olhos muito assustados, como se "ser tropeçado" não fosse sua idéia de declaração romantica.
    Ela de olhos cintilantemente verdes, sentou-se ao lado dele, tomou a margarida entre seus dedos e sorriu, como quem diz que está tudo bem...

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