terça-feira, 3 de março de 2009

O Menino do Leste!


"Como se ela não tivesse suportado sentir o que sentira, desviou subitamente o rosto e olhou uma árvore. Seu coração não bateu no peito, o coração batia oco entre o estômago e os intestinos." (Clarice Lispector)

Acordei bem cedo, para ver como estava o tempo. Fui caminhando lentamente rumo à janela, já imaginando mais um dia de espera. Nem me importava, já estava conformada, alias a espera fica muito mágica quando esperamos da forma correta: esperar sem aquela expectativa platônica.
Cheguei frente à janela, ia abri-la, mas não abri. O que vi foi mais forte que meu desejo de abri-la, acontece que quando um sentimento devastador vem em nossa direção não há como pensar em ter atitudes, só aquilo toma conta de ti, como se tudo que você fosse desde o nascimento fosse um vácuo esperando por ser preenchido.
Acontece que avistei do outro lado da rua a causa da minha grande idéia fixa: o Menino do Leste, justo eu que estava procurando maneiras absurdas para atravessar o muro que nos separava e ali estava ele, tão perto de mim. E o muro havia, como num passe de mágica, desaparecido totalmente. Porém nem me importei em verificar a paisagem do outro lado, não era isso que me importava, afinal paisagem bonita eu sempre possui. Temendo ser um sonho ou delírio, limpei novamente meus olhos, esperando por acordar novamente e ver que nada daquilo era real, mas era... era o Menino do Leste.
Minha reação foi a obvia de todos os apaixonados: fiquei estática. Olhar fixo, respiração profunda, coração acelerado. Nada em mim podia se movimentar, o tal sentimento devastador havia me preenchido e de repente meu corpo ficou pesado demais para exercer qualquer atividade.
Então fiquei ali, observando o Menino do Leste que estava num lindo jardim, do outro lado da rua. Aquele jardim não era meu, nem era dele, e, no entanto ele parecia estar plantando flores ali, calmamente, com muita atenção e muito cuidado. Pensei: ele esta ocupado, deve ser importante demais a sua tarefa. Então fui abrindo calmamente a janela procurando não fazer barulho, caminhei um pouco pela varanda a fim de ver mais certamente o que ele estava fazendo. Era isso mesmo, ele estava plantando flores, por um instante fiquei imaginando se estas flores eram pra perfumar minha rua ou para atrair borboletas... e o pensamento se foi quando ele olhou em minha direção... olhou e sorriu! Eu, estática, coração na boca, só me permitir sorrir e acenar... ele sorriu novamente!
Eu sabia que o correto seria ter descido rapidamente as escadas, abrir os portões, atravessar a rua e... e fazer o que? - eu pensava – ia falar o que? A verdade é que durante todo o tempo que fiquei olhando o grande muro eu pensei em como fazer para encontrá-lo, mas não pensei em que eu faria quando o encontrasse, a verdade é que eu achava que isso se solucionaria na hora que o encontrasse, ou que teria tempo demais pra pensar nisso. Não, era o momento! E por não ter coragem o suficiente, fiquei esperando que ele soubesse o que fazer... Mas ele estava ocupado, então esperei!
Foi então que ele olhou para mim e pareceu estranhar alguma coisa, como se eu tivesse diferente, mas ele parecia gostar da mudança. E ficou ali olhando, como se esperasse que eu lhe contasse algo, eu não compreendia nada, como então poderia lhe falar? Foi então que me lembrei das asas, é claro que ele via algo diferente: Que pessoa acorda e coloca um par de asas de anjo nas costas e vai abrir a janela? Me senti patética, porém me lembrei que ele parecia gostar das asas, então sorri como quem quer dizer “você ainda se lembra?”. Ele respondeu com um gesto de cabeça dizendo que sim.
Ficamos os dois parados, olhando-nos, como se cada um esperasse algum acontecimento... e nada!
De repente percebi que, entre duas pessoas, quando há palavras que não foram ditas no momento propicio, acontece que elas não morrem, apenas ficam transparentes, permanecendo para sempre entre eles, como se formassem uma barreira. Ali, entre nós existiam uma infinidade de palavras, frases, orações, poemas e epopéias.
E tudo que era aflição de vê-lo se transformou em saliva, engoli seco. Por não saber as respostas das perguntas que eu mesma me fazia, por não ter coragem, por não saber, olhei-o com sorriso triste, respirei fundo, me virei de costas e entrei novamente em meu quarto. Deitei. Dormi.
Quem disse que todas as historias devem ser poéticas?... e quem disse que amar era simples?
As vezes o amor é simples mas não é poético... em outras ele é poético mas não é simples... e tem algumas ainda, em que ele não é nem simples, nem poético... só é AMOR!

2 comentários:

  1. Sempre estranhei a máxima: "Cuidado com o que deseja, pois você pode conseguir!"
    Sempre pensei, ué mas se eu desejei, dã, eu quero conseguir...mas do alto dos meus parcos 21 anos já entendo que nem sempre estamos certos do que é melhor pra gente.

    Só posso citar o grande Machado de Assis:

    "Como eu quisesse falar também para disfarçar o meu estado, chamei algumas
    palavras cá de dentro, e elas acudiram de pronto, mas de atropelo, e encheram-me a
    boca sem poder sair nenhuma (...)
    (...)E todas as palavras recolheram-se ao coração, murmurando: “Eis aqui
    um que não fará grande carreira no mundo, por menos que as emoções o dominem...” (...)"

    e eu penso que é isso, nenhuma pessoa que deixa que as emoções a dominem tem qualquer chance lá fora...apaixonados do mundo, fodemo-nos...

    :D

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  2. as vezes nem amor é, a falta de uma definição as vezes pode confundir as pessoas tbm ...

    mais adorei o final ... as coisas na maioria das vezes não tem um roteiro lindo, maravilhoso e complexo que termina igual aos filmes ^^

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